Publicado em 30/07/2022 às 10:00

Hitler na América (parte 1)

Certa ocasião, no inverno de 1997, morava na Avenida Brasil em Santo Ângelo, onde meu pai tinha um comércio e me chamou para conhecer um senhor. Ainda hoje recordo com satisfação o convite que meu pai me fez. Na época eu tinha apenas 14 anos, mas já um grande interesse por história, principalmente quando envolvidas as Guerras Mundiais. Isto motivou ser chamado por meu pai, para participar de uma conversa de um dos seus clientes em seu estabelecimento comercial.

Este cliente, um senhor, já com mais de 80 anos, e de aprazível olhar, de início, não me causou muito interesse, e recordo que veio o pensamento de: “que ganharia eu por escutar aquele velho de cabelos brancos”. No entanto, este bom velhinho foi responsável por um dos fatos históricos mais importantes dos que considero que tive exclusividade em receber. Passados alguns anos me dói não ter feito maior registro dos dados e fatos que ele me relatou, tão simples e convincente, com nomes de pessoas e locais. Informações que poderiam propiciar a escrita de um livro, mas que ganham por hora apenas um breve texto.

O referido ancião me localizou no tempo, informando ter nascido em uma cidadezinha do noroeste gaúcho de colonização alemã, e que se tornou um hábil construtor de igrejas, tendo citado algumas de suas construções no interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Uruguai e Argentina.

E justamente no período que findou a 2ª Grande Guerra, ele estava envolvido em construções nos territórios hermanos. Momentos nos quais teve que hospedar-se em um hotel, e que no terceiro dia lhe foi solicitado a mudança de quarto, pois o hotel estava recebendo novos hóspedes. Tratava-se de uma comitiva, algo como 20 ou 30 pessoas. Logo notou que os novos hóspedes que chegavam à calada da noite falavam alemão, apesar de alguns se identificarem como brasileiros, tão equivocados foram eles, pois o referido senhor, apesar de já estar a cerca de 3 ou 4 anos em territórios uruguaios e argentinos erguendo suas obras, e com pleno domínio do espanhol, era brasileiro, e conseguiu sem intenção descobrir que de brasileiros não tinham nada estes novos hóspedes. Aliado ao seu conhecimento da língua alemã, própria das colônias do RS, conseguiu empreender diálogo com os novos personagens que se hospedavam com ele no hotel, e apesar de inicialmente serem de difícil aproximação, acabou por logo criar um sutil vinculo de amizade, permitindo assim um contato direto com estes. Este contato lhe assegurou saber que eram todos oficiais nazistas que escaparam da Europa, após uma passagem pela Espanha e que se refugiavam em terras argentinas, sobre proteção de empresários e políticos ainda no governo de Farrel [1944-1945], que havia assumido o cargo em um golpe militar pró-alemão, e obtiveram proteção ainda maior no governo de Juan Domingo Perón [presidente argentino de 1946-1955].

O referido senhor me mencionou todos os nomes que recordava, do hotel, como de e em alguns casos até de personagens paralelos, desde o da filha de um dos proprietários do hotel, como dos sujeitos com os quais firmou amizade. Citou a localização do hotel e a das fazendas as quais estes foram residir, sendo uma, não muito distante de Buenos Aires, alguns que foram para a região de Córdoba e outros para a região da Patagônia. Estas novas amizades, lhe renderam importante destaque, pois passou a usufruir de uma série de vantagens e benefícios em território castelhano diante de seus amigos, como: Ser hospedado algumas vezes em uma propriedade onde alguns deles passaram a viver, e que segundo informações que ele recebera, pertencia a família Perón. Entre os encontros que teve com os novos amigos, em três oportunidade teve contato com o mais destacado e mais reservado deles, o qual acompanhado de sua esposa, era um sujeito que possuía baixa estatura, rosto limpo [sem barba], com uma leve cicatriz na região superior do lábio, cabelo escuro e bem curto.


Continua no próximo sábado.



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