O Brasil não julgouosmilitares que comandaram o
período ditatorial. Estabeleceu-se um consenso político que pareceu proteger o
país contra os devaneios golpistas.Todavia, os fantasmas não demoraram para
arrastar coturnos nas penumbras palacianas.
É
verdade que a gente, erroneamente, não deumuitabola ao bufão que homenageava
torturadores, com aquela oratória repleta de frases confusas e agressivas, o
sujeito não daria conta de construir um plano para subverter a democracia.
O
galhofeiro capitão,porém, tornou-se ummonstrengo, e não pelo fato de
lambuzar-se com farofa em performances de estética quentin-tarantinesca, mas,
sim, pelo vilipêndio aos valores democráticos.
Crer
na figura quimérica do asinino alado não é algo difícil. Para Freud, “as massas
nunca tiveram sede de verdade. Requerem ilusões, às quais não podem renunciar.
Nelas o irreal tem primazia sobre o real, o que não é verdadeiro as influencia
quase tão fortemente quanto o verdadeiro”.
O
pequeno monarca,depois da derrota nas urnas, embarcou para a terra do rato
orelhudo, talvez em busca de um fictício reino para esconderou vender as joias
– reais –pertencentes à República reputada por ele como das Bananas.
O
capítulo seguinte da incivilidade veio à tona pelas mãos dos golpistas no 8 de
janeiro. As instituições democráticas resistiram, a lei restou aplicada e
alguns já foram condenados.
Não
muito distante da baderna, enfeitiçado pelo fulgor dos diamantes,outrorafiel às
desventuras dorei louco, o condecorado coronel Cid celebrou acordo de
colaboração premiada com a Polícia Federal.
As
declarações prestadas pelo principalassessor de Bolsonaro seguem sob sigilo, a
apuração, em andamento. Os boatos revelam que o ex-presidente se reuniucom os
comandantes das Forças Armadas para deliberar acercada ruptura do regime
democrático.
O
episódio é gravíssimo:a conduta dos militares, inclusive na sua forma omissiva,
deve ser apurada com rigor, se outrora escaparam pela Lei da Anistia, agora,
acaso culpados, devem ser punidos e moralmente banidos da vida pública.
Golpe
de Estado, ditadura, intervenção militar, supressão de direitos e prisões
políticas são instrumentos de uma guerra que se declara ao próprio povo, e
nenhuma instituição, civil ou militar, possui tal prerrogativa constitucional.