sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
Publicado em 06/10/2023 às 16:20

Um pacto de amor

Não recordo quando me tornei colorado. A fotografia ostenta um menino de quatro anos de idade. Lá estava eu vestindo uma camiseta vermelha, calção branco, meias brancas e kichute preto.

Guardo um retrato da minha estreia no Beira-Rio. Foram horas de estrada entre Santo Ângelo e Porto Alegre para assistir ao jogo do campeonato brasileiro, no começo da década de 1980. Celebrava com o Clube do Povo um contrato de amor eterno repleto de cláusulas de felicidade plena.

Bom. Eu nunca violei a minha parte do compromisso de amor rubro!

Já o Internacional…

A década de 1980 não foi fácil! Aquela final de campeonato perdida para o Bahia (1989). O meia Bobô deixou cicatrizes n’alma colorada. Alguns meses depois, outro pesadelo. Após a vitória em Assunção, a tragédia repleta de heróis paraguaios e vilões colorados foi escrita às margens do Guaíba.

Descobri na adolescência que o contrato de amor eterno continha uma cláusula me obrigando a secar o Grêmio, que iniciava uma década de glória a partir de 1990. Não era fácil acordar cedo e rumar cabisbaixo para o Colégio Missões.

É verdade que ganhamos a Copa do Brasil do Fluminense… afff! O Flu! Aquele pênalti fantasmagórico sofrido pelo Pinga e a cobrança horrorosa do Célio Silva. Mas o Internacional cumpria o pacto de amor com o menino missioneiro.

Depois de escaparmos do rebaixamento, os anos de ouro surgiram no horizonte. Nascia para o planeta o Campeão de Tudo, tantos títulos, a épica vitória contra o Barcelona. Gol do Gabiru!

Outro título da Copa Libertadores: a glória eterna!

Não dá pra esquecer a Série B. Mas deixemos pra lá este capítulo do inferno futebolístico. Tempos difíceis.

Em plena pandemia, trabalhando, eu estava no interior do estádio quando o auxiliar anulou o gol do Edenilson. Não consegui dormir. Segui amando o Internacional, sofrendo, porém.

Ruas de fogo. Os colorados cantavam felizes. A garoa para lavar a alma. O destino nos levaria para o Maracanaço em um quadro de esperança vermelha.

Pesadelos impregnaram-se na retina dos coloradinhos.

Perdemos.

A ferida do desamor que tu abriste em nós segue latejando, apesar da racionalidade das derrotas.

Prometo, porém, Inter, continuar te amando, sofrendo, cumprindo a minha parte do contrato celebrado na infância.



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