O estado do Tennessee, nos EUA, aprovou uma lei que
permite a pena de morte em condenações por estupro de crianças. O texto foi assinado pelo governador
republicano Bill Lee em maio, sem alarde, e entrará em vigor em 1º de julho.
A nova lei do Tennessee autoriza o
Estado a impor a pena de morte quando um adulto é condenado por estupro
agravado de uma criança. Os condenados podem ser sentenciados à morte, à prisão
perpétua sem possibilidade de liberdade condicional ou à prisão perpétua.
O estado, no entanto, não poderá executar a lei por conta de uma
decisão da Suprema Corte dos EUA, de 2008, que proibiu a pena capital em casos
de estupro de crianças. A aprovação do texto, defendido pela maioria
republicana no legislativo do estado, acontece para pressionar a corte a
reverter sua decisão.
O Tennessee permitia anteriormente que estupradores de crianças
condenados enfrentassem a pena de morte, mas a lei se tornou inconstitucional
após a decisão da Suprema Corte, que tornou inconstitucional o uso da pena de
morte nesses casos.
Segundo a agência de notícias Associated Press, políticos do estado
esperam que a pressão exercida na Suprema Corte, com maioria de juízes
conservadores, faça com que a decisão seja revertida — em 2022, a corte
anulou a decisão histórica Roe contra Wade, que permitia a legalização do
aborto nacionalmente em 1973 e fez com que a decisão sobre o assunto ficasse a
cargo dos estados.
"Talvez a atmosfera seja diferente na Suprema Corte", disse a
senadora republicana Janice Bowling no mês passado, ao debater a favor da lei.
"Estamos apenas desafiando uma decisão".
Bill Lee disse a repórteres em maio que não assinou o
projeto esperando que fosse "testado" no tribunal. Na ocasião, firmou
que crimes contra crianças são "alguns dos mais hediondos que
existem".
A
lei de execução nos EUA determina que crimes devem envolver a morte da vítima
ou traição contra o governo para serem elegíveis para a pena de morte. A
Suprema Corte decidiu quase 40 anos atrás que a execução é uma punição muito
severa para agressão sexual, e os juízes tomaram uma decisão semelhante em 2008
em um caso de estupro de criança.
O governador da Flórida, Ron
DeSantis, promulgou uma lei similar em 2023. Em dezembro, promotores da Flórida
no condado de Lake anunciaram que estavam buscando a pena de morte para um
homem acusado de cometer abuso sexual de uma menor de doze anos. Segundo o
Centro de Informações sobre a Pena de Morte dos EUA, este caso é considerado o
primeiro a ser perseguido sob a nova lei.
Atualmente, todas as
execuções no Tennessee estão suspensas enquanto autoridades estaduais revisam
mudanças no processo de injeção letal. O governador Lee impôs a pausa após um
relatório devastador de 2022 detalhar múltiplas falhas na forma como os presos do
Tennessee eram executados.
Suprema
Corte
O caso Kennedy contra
Louisiana virou um marco da anulação da pena de morte em casos de crimes
sexuais nos Estados Unidos após ser julgado pela Suprema Corte do
país em 2008. Desde então, a proibição da aplicação da pena capital nesses
casos vigora de forma nacional.
Patrick O'Neal Kennedy recebeu pena de morte em 2003 após ser condenado pelo estupro de sua enteada de oito anos, ocorrido em 1998 em Louisiana. Ele foi condenado por uma lei de 1995 do estado que previa a pena para estupros de crianças menores de 12 anos. Kennedy contestou a constitucionalidade da lei e após passar por diversas instâncias do Judiciário americano, o caso chegou à Suprema Corte nacional.