Assentado ao pé do perau, o velho matuto espreita os derredores,
aguça a xucreza estampada na cor do vento, pigarreando os desgostos do
palheiro, inclina o seu olhar para os fundões da canhada, repara nas arribadas
das rapineiras aves, sempre no encalço de suas presas prediletas, à satisfação
do aguçado paladar, espreita-as, disfarçadamente, enquanto permite-se calcular
o tamanho da sua ansiedade e, dar voz à sua ansiedade abdominal, para regozijo
da saciedade, maculando os instintos primários do sistema digestivo, prelúdio inegociável, com o seu próprio eu, eu
da sua vida.
Palmilha na memória, dias infantis, a face materna, em soluços de
alegria, dosando as tulhas, celeiros sempre de boca aberta, suplicando os
grãos, pra dura invernia, piazotes tantos, mesa sem falsas promessas, faculdade
de opções ausentes, contemplam o meninote, a escolinha, a realidade chocando a
porta do rancho, a dor, o sabor, a verdade, deliberadamente, saudando todas as
refeições, a razão falando baixinho, sufocando a emoção, as cantigas antigas,
trovejando palavras, guri taludo, sente arrepio, impelido pela razão, avança no
tempo, sente arrepios, ante os trinares da vida, o prodígio vida, dura vida,
mas vida!!
Retalhado pelas agruras, o taciturno faz colóquios solitários,
reajusta os olhares, desata os nós do pensamento, avança para a infância,
desliza pela mocidade, sorri deliciosamente, corre da coxilha à várzea, vê,
essa, aumentar e diminuir em consonância com as águas pluviais, relembra do
ciúme das manhãs, em face dos flecos da lua, espelhadas no sereno, deleite da
juventude, plena de amores, do galope pelas campinas, das moças campesinas,
viçosas, cavalgando esperanças, no véu da mocidade, saudando as auroras da
vida, vida para viver, vida – vicissitudes.
O alinhamento da razão, calafrios causam solavancos, dos dias
íngremes, advém lembranças de conquistas, vitórias, superações, do moço do
campo, letrado pela vida, lançando genuinidades, mostrando itinerário, exemplos
dignificantes, repassados aos herdeiros, que, briosos ostentam a sua marca e
sinal, louvando a vida - o chino velho, arrepia o pelo em plena primavera,
soube, de folhas caducas, em balouços, espalhar notícias gritantes, de que
homens letrados, firmar cruentas liberdades – do podar a vida, de singelas
promessas, indefesas, inocentes, impiedosamente, ainda, no ventre materno!
Opinião