Uma das principais proteínas no prato das famílias, a carne segue apresentando valores mais baixos no Rio Grande do Sul. O preço médio da carne bovina acumula queda de 12,02% em um ano, comparando setembro de 2024 com o mesmo mês do ano passado. O dado faz parte de índice apurado pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Maior oferta do produto e consumo interno que não acompanha esse salto estão entre os principais pontos que explicam cortes mais em conta, segundo especialistas.
O levantamento do NESpro aponta que os cortes vazio, contrafilé e filé mignon apresentaram as maiores reduções de preços no período — entre 17,17% e 16,31%. A pesquisa é realizada nos principais mercados consumidores de carne bovina do Rio Grande do Sul. A maior parte do levantamento ocorre em Porto Alegre, que abriga a maior parcela do consumo desse produto em termos percentuais.
Os preços dos cortes apresentados no estudo são uma média
de todas as consultas no varejo. Por exemplo, consumidores podem achar
determinado corte com valores diferentes, distante da média para cima ou para
baixo, dependendo do local de compra e da região.
Empobrecimento
O coordenador do NESpro, professor Júlio Barcellos, também destaca que esse salto nos abates se dá em meio a preços baixos aos pecuaristas. Barcellos explica que isso ocorre em ambiente onde algumas classes sociais sofrem com problema de renda e diminuem a busca por carne. Com maior volume de produto e freio na demanda, os preços nas gôndolas recuam, segundo o coordenador:
‘’Há um empobrecimento, principalmente das classes C e D, e a alimentação pesa muito no orçamento dessas famílias. Com o orçamento diminuído no último ano, essas pessoas passaram a comer menos carne bovina. Temos, de um lado, mais oferta de carne, de outro, menor demanda. Isso foi impactando os preços lentamente.” Destaca JÚLIO BARCELLOS.
Consumidores
em busca de ofertas
A dona de casa Alessandra da Silva, 48 anos, olhava com atenção as opções de carne em um açougue no Mercado Público de Porto Alegre na manhã da última quinta-feira (5). Moradora do bairro Jardim Itu, na zona norte da Capital, Alessandra afirma que não sente diferença muito grande nos preços, mas que já encontra queda em alguns cortes. Para achar produtos mais baratos e economizar, busca diversificar os locais de compra.
O que mais chama atenção, diz, é a diminuição no
valor de cortes considerados mais populares e os nobres, o que abre espaço para
aquisição de produtos considerados “de primeira”. Na compra da quinta, ela
optou por cortes e embutidos de frango e suíno. Para o dia a dia, ela afirma
que compra mais costela, patinho e maminha.
— No mercadinho de vila tá um pouco mais barato ainda.
Expectativa de estabilidade para os próximos meses
O coordenador do NESpro, Júlio Barcellos, estima que a reta final do ano deve ser marcada por estabilidade nos preços aos produtores e para os consumidores. No varejo, alguns fatores como retomada de exportações e entrada de alguns programas sociais, especialmente no RS, reforçam esse ambiente, segundo o professor:
— O consumo deve se manter estável e os preços para estes quatro meses que faltam para completar o ano não devem cair na mesma magnitude que aconteceu no período acumulado até agora.
Um dos sinais dessa estabilidade é a variação dos preços no acumulado deste ano, diz. Olhando o dado de janeiro a setembro, a queda no preço da carne bovina ficou em 6,25%, abaixo dos 10,98% observados no mesmo período de 2023. Ou seja, os preços seguem em queda, mas com certa desaceleração de ritmo.
Mudança
de ciclo
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, estima que esse ciclo pecuário vai começar a inverter no início do próximo ano. No entanto, ele afirma que mudanças nos preços também estão ligadas a outros fatores, como inflação e demanda dos consumidores. Neste momento, a estiagem que afeta diversas regiões do país é um ponto de atenção para a produção, segundo o especialista.