Quatro dias após a invasão de Porto Alegre, Bento Gonçalves fez imprimir um manifesto na
tipografia do Recopilador Liberal, o jornal mais querido dos farroupilhas. Depois de historiar as
razões do movimento armado, convocou os rio-grandenses para a manutenção da ordem e da
liberdade (Inserido no romance de Alcy Cheuiche - A Guerra dos Farrapos).
Cumprimos, rio-grandenses, um dever sagrado repelindo as primeiras tentativas de
arbitrariedade em nossa querida pátria; ela nos agradecerá e o Brasil inteiro aplaudirá o vosso
patriotismo e a justiça que armou vosso braço para depor uma autoridade inepta e facciosa, e
restabelecer o império da lei. Compatriotas, eu acrescentarei à glória de haver sido em outros
tempos vosso companheiro nos campos da batalha e haver-vos conduzido contra vossos
inimigos externos, a glória ainda mais nobre e perdurável de haver concorrida a libertá-la de
seus inimigos internos e salvá-la dos males da anarquia. O governo de facção desapareceu de
nossa cena política, a ordem se acha restabelecida. Com este triunfo dos princípios liberais,
minha ambição está satisfeita, e no descanso da vida privada a que tão somente aspiro,
gozarei o prazer de ver-vos desfrutar os benefícios de um governo ilustrado, liberal e conforme
com os votos da maioria da Província. Respeitando o juramento que prestamos a nosso código
sagrado, ao trono constitucional e à conservação da integridade do Império, comprovareis aos
inimigos de nosso sossego e felicidade que sabeis preferir o jugo da lei, aos dos seus infratores,
e que ao mesmo tempo nunca esqueceis que sois os administradores do melhor patrimônio
das gerações que nos devem suceder. Que esse patrimônio é a liberdade, e que estais na
obrigação de defendê-la, à custa de vosso sangue e de vossa existência. A execração de nossos
filhos cairá sobre nossas cinzas, se por nossa desmoralização e incúria lhes transmitirmos este
sagrado depósito desfalcado e corrompido. E suas bençãos nos acompanharão no sepulcro se
lhes deixarmos o da virtude e do patriotismo.
Porto alegre, 25 de setembro de 1835.
Bento Gonçalves da silva
Opinião