Não sei bem ao certo como iniciar
a escrita, mas já que estamos em semana de clássico futebolístico, talvez a
melhor maneira seja anunciando a escalação do escrete: Pastor, Gordo, Silas,
Fuca, Diabo, Ferrinho, Gigia, Chico, Teleco, Farelo e Cheiroso.
É desconhecida a posição de cada
um dos relacionados, mas posso afirmar que não se trata de um time da década de
1960, quando apelidos eram comuns nas escalações. As alcunhas foram extraídas
de um processo criminal relacionado à mercancia ilícita de drogas.
O futebol que provoca aguda
esperança em adolescentes periféricos, afastando-os das veredas do crime,
também serve de palanque para a política. Os governantes utilizam o esporte em
suas retóricas, sabem que, sob o delírio do drible, as pessoas às vezes esquecem
os desacertos e as ausências nas políticas públicas.
Embora o futebol nunca tenha
deixado de fragmentar o concreto em classes, bastando recordar dos setores
populares, como a geral e a coreia, é possível dizer que o povo foi arredado
das novas arenas, a voracidade do capital não aceita os perdedores -
consumidores falhos - nas arquibancadas.
Nesse toar, a Copa do Mundo, em 2014, impôs ao país o definitivo rompimento
classista no futebol, não por acaso turbulências políticas e sociais sucederam-se
no Brasil naquela época.
As catracas das arenas
fecharam-se ao pedreiro que justamente erguera os alicerces dos novos templos
do futebol. É nesse contexto que se vê a sociabilidade da arquibancada, enquanto
resistência ao individualismo, derrotada em vertiginosa goleada.
“Eu não lembro a última vez que fui ao Maracanã”, disse-me o garçom
flamenguista, ainda referindo a necessidade de alimentar a família, não havendo
como custear o ingresso ao estádio.
Futebol, crime e política
disputam a vida coletiva nas comunidades, interseccionam-se, distribuem
sentidos reais e simbólicos, constroem o imaginário social, ofertam e sonegam
oportunidades, dizem sobre o viver e o deixar de viver, especialmente para os
jovens.
Assim, a partir da reconfiguração
da sociedade brasileira do Séc. XXI, que acentua desigualdades até mesmo nas
arquibancadas, paira uma dúvida: quem está vencendo o jogo?