Publicado em 12/10/2024 às 13:04

Os riscos do ambiente digital para as crianças

Os riscos do ambiente digital para as crianças

Neste sábado (12) é observado o Dia das Crianças. Num mundo altamente conectado e com a tecnologia avançando a cada dia, os desafios para os pais e responsáveis é cada vez maior nesse quesito.

Para ter uma ideia, a população inteira da França, Itália e Grécia, juntas, não corresponde à quantidade de brasileiros conectados à internet: cerca de 149 milhões de usuários. Desse total, aproximadamente 142 milhões utilizam a internet diariamente. Esse elevado índice não exclui os jovens e crianças, como mostra pesquisa TicKids Online, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. De acordo com o estudo, 95% da população entre 9 e 17 anos é usuária de internet no Brasil, valor que corresponde a 25 milhões de pessoas. O estudo, que já está em sua 10ª edição, entrevistou 2.704 crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos.  

De acordo com a pesquisa, os usos da internet variam desde escutar música em sites e aplicativos até enviar fotos e vídeos a desconhecidos. A maioria dos acessos é através do celular e boa parte possui redes sociais. Além disso, mais de 30% das crianças e adolescentes entrevistados nunca, ou quase nunca, se preocuparam com a privacidade na internet e já viveram situações em que se sentiram ofendidas ou chateadas.

Mesmo que pesquisa do IBGE aponte que pela primeira vez em sete anos o uso da internet por crianças de 10 a 13 caiu, o percentual ainda é muito alto. Fatia de brasileiros que têm celular nessa faixa etária ficou estável

 

EXPOSIÇÃO

A psicóloga educacional Milena Fontana da Luz, afirma que os pais precisam compreender que não existe exposição segura quando se fala em acesso a telas. “É muito perceptível que, atualmente, as famílias estão mais atarefadas e possuem muitas questões para "dar conta", entretanto, permitir aos filhos o acesso irrestrito à tecnologia é prejudicial para o desenvolvimento físico, motor, cognitivo e emocional deles”.

Segundo ela, conciliar isso não é uma tarefa simples, pensando em uma família que trabalha o dia todo e quando chega em casa ainda precisa sanar as questões domésticas, todavia é essencial que se busque constantemente um equilíbrio nesse aspecto. “Um belo exemplo é incluir as crianças e adolescentes nas atividades domésticas, as crianças pequenas possuem uma pré-disposição para ajudar, eles gostam de se sentir úteis”.

Mas como aplicar isso no dia a dia de maneira concreta? Na visão da psicóloga, pedindo ajuda para guardar a louça, arrumar a mesa, tirar o lixo, guardar os brinquedos e todas as tarefas que a criança é capaz de realizar. “Maria Montessori sempre deixou claro seu ponto de vista: “nunca ajude uma criança em uma tarefa que ela sente que pode realizar sozinha”. Então perceba que o fato vai muito além de mandar que a criança faça, trata-se de incluí-la, ensiná-la e fazer dessa atividade um momento de conexão entre a família, criando memórias para toda a vida, autoconfiança e autoestima”.

 

CONSEQUÊNCIAS

Milena salienta que não podemos pensar que esse uso sem freio da tecnologia não traz consequências e que quando a adolescência chegar simplesmente o cérebro vai fazer um "clic" e aquele indivíduo vai perceber que precisa contribuir para a ordem do lar. “É responsabilidade dos pais ajudar os filhos a se desenvolverem em todos os seus aspectos. Recentemente li sobre um estudo interessante feito pela universidade de Harvard que acompanhou crianças ao longo de seu desenvolvimento e concluiu que as crianças inseridas em atividades domésticas apresentavam maior autoestima e independência comparado com as demais crianças. O que fica claro aqui é o fato que a criança não ajuda para "aliviar" os pais, o que está em jogo é o desenvolvimento global da criança”.

 

 

DEPENDÊNCIA

Sobre a questão da dependência que atinge adultos, a psicóloga entende que o cérebro anseia pelo que é mais prazeroso: “Exatamente por esse motivo que é muito difícil manter uma rotina saudável ou comer um frango grelhado ao invés de uma pizza. Nosso cérebro quer recompensas custe o que custar (mesmo que no fim das contas isso seja prejudicial para ele mesmo). Com as crianças não é diferente e posso afirmar que é ainda pior: pois nós adultos ainda podemos controlar nosso querer e saber o que é melhor para nós mesmo, a criança não; ela ainda não possui capacidades cognitivas para antever consequências e decidir de forma racional o que é melhor para ela. Essa é a grande tarefa dos pais”.

 

ATENDIMENTO

Milena Fontana da Luz (CRP 07/38607) realiza atendimento de orientações de pais on-line pelo telefone (55) 99622-0343.

 

Os grandes desafios do ambiente virtual

Na avaliação da psicóloga, o maior risco desse ambiente virtual é a exposição de conteúdos inadequados para a faixa etária. “Não é raro ouvir falas como "no freefire (jogo online) estavam perguntando onde eu morava" ou "pediram fotos do meu primo e ofereceram diamantes para ele", esses são alguns exemplos do que já ouvi durante minha prática educacional”.

Alerta que as crianças e adolescentes não possuem maturidade para lidar com um ambiente digital, muitas vezes os diálogos mantidos nesses aplicativos são obscenos, vulgares e podem aflorar traumas e crenças que a criança vai carregar por toda sua vida. “É comum também as crianças reproduzirem tiques ou expressões como nos vídeos (modos de falar, caretas e/ou danças repetitivas). Sem contar que plataformas como o Tiktok não possuem um filtro eficiente dos conteúdos, podendo sexualizar as crianças e adolescentes.Crianças e adolescentes não possuem maturidade e filtros sociais para compreender tudo o que passa aos seus olhos pela tela do celular, é obrigação dos pais estarem atentos e zelosos pela saúde de seus filhos”.

 

 Mais ansiedade e menos tolerância às frustrações

A psicóloga avalia que é muito perceptível a forma como a exposição tecnológica afeta cada fase do desenvolvimento. “Crianças ficam muito agitadas, irritadas e não aceitam seguir ordens na grande maioria dos casos. Já ao entrar na adolescência percebe-se jovens mais quietos, que não querem interagir, apáticos e que muitas vezes não mantêm convivência dentro do âmbito familiar. Ficam isolados no quarto, por exemplo”.

Observa que o que se percebe claramente nos dois grupos é a baixa tolerância à frustração. “Crianças e adolescentes não são treinados para exercitar a paciência, a concentração e a memória, não possuem mecanismos internos para lidar com a escassez e com o não dos pais. Para esse último ponto gosto de fazer uma correlação simples: vídeos curtos (muitas vezes com 15 segundos de duração), acesso sem moderação de tempo e supervisão de conteúdos. Em resumo: a facilidade, é muito fácil ganhar um celular, é muito fácil consumir por horas a fio conteúdos feitos para prender a atenção e é fácil se esquivar de outras atividades”.

Ela orienta que existem alguns recursos que podem auxiliar os pais nesse caminho de monitoramento e diminuição do tempo de uso de telas, como aplicativos de controle e bloqueio do celular do filho. “Acredito que o mais eficaz é o diálogo, franco e aberto, mostrando para a criança ou adolescente os riscos e os perigos de entrar nesse “mundo tecnológico”, a presença é o melhor aliado dos pais nessa batalha e com confiança mútua é possível construir uma convivência agradável e segura nos ambientes virtuais”.

Ressalta ainda que a confiança entre pais e filhos deve ser construída desde a tenra idade. “Desde pequenas as crianças precisam perceber que existe uma hierarquia, regras a serem cumpridas e um adulto que está disponível para ajudá-la e ensiná-la a crescer. Na medida em que a criança vai se desenvolvendo ela vai aprendendo, ou seja, aprendizado e desenvolvimento não podem ser dissociados, eles são partes do todo”.

 



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