Uma nova medicação para enfrentar a
obesidade e o sobrepeso está disponível no Brasil: o Wegovy, uma caneta injetável que tem a mesma substância do já conhecido Ozempic, a semaglutida. A diferença principal entre ambas é a potência.
O Wegovy tem 2,4
miligramas, mais que o dobro do Ozempic, que é de 1 miligrama.
Com isso, o novo remédio
se mostra mais efetivo, segundo o endocrinologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luis
Henrique Canani. O médico participou de um dos estudos de implementação do
fármaco no país.
"Quanto maior a dose, maior a perda de peso. Ele mostrou um efeito
muito importante na perda de peso, e vem aprovado para essa indicação,
tratamento de sobrepeso ou obesidade", diz.
O consultor de tecnologia Luiz Eduardo
Barbosa, que faz o uso do medicamento, diz ter "uma sensação de saciedade o tempo todo".
O Ozempic foi desenvolvido para tratar a diabetes e, como efeito
paralelo, reduz o peso dos pacientes. Já o Wegovy foi criado para combater o
excesso de peso, como está descrito na própria indicação da bula que acompanha
a caneta de injeção.
Segundo o endocrinologista gaúcho, o novo composto comprovou benefícios
à doenças relacionadas, em um estudo que reuniu 17 mil pacientes, no Brasil e
em outros 40 países.
"Esse estudo, que se chama Select, mostrou que a perda de peso,
tratada com essa medicação, diminuiu eventos cardiovasculares, ou seja,
diminuiu a mortalidade. Melhorou não só a qualidade de vida, mas prolongou a
vida dos pacientes.Isso é um marco, é um marco", afirma Canini.
Atualmente, a medicação de 2,4 mg custa R$ 1.915, e o kit dura um mês. A informação é da
farmacêutica Novo Nordisk. Em consula a farmácias em Porto Alegre, a reportagem
do g1 encontrou a caneta nesse mesmo
valor. Dosagens menores, indicadas para início do tratamento, custam menos.
'Uma sensação de saciedade o tempo todo'
Luiz Eduardo Barbosa é consultor de tecnologia e vive entre Porto Alegre
e o Rio de Janeiro. Quando chega ao RS, "enfrenta" um problema.
"O meu grande problema são os bufês. Aqui no Sul é uma delícia,
cara. Churrascaria, galeteria, café colonial", fala.
O carioca diz que, por muito tempo, comeu por compulsão.
"Eu nunca consegui, na minha vida, deixar a comida no prato. Eu
comia muito rápido, muito ansioso, já estava com aquela fome desesperadora,
geralmente na hora do jantar ou na hora do almoço", comenta.
Um exemplo de casa fez ele buscar ajuda: o irmão apresentou um quadro de
pré-diabetes. Em uma consulta com um endocrinologista, recebeu a receita para o
Wegovy. Com a injeção, no primeiro mês, ele perdeu cerca de 5 quilos.
"Basicamente, uma sensação de saciedade o tempo todo. Parece que eu
sempre acabei de fazer um lanche, mesmo não tendo feito. E eu, que estava
sempre com uma vontade na cabeça de comer, que pensava no que eu ia comer, essa
vontade passou completamente", relata Barbosa.
O endocrinologista Rogério Friedman explica esse efeito.
"Ele tem dois efeitos importantes. Ele diminui a velocidade com que
o estômago esvazia. Ou seja, a gente come, o alimento fica mais tempo no
estômago e isso dá uma sensação maior de saciedade para a pessoa. E ele também
tem ações no cérebro. Ele atua nos centros que controlam o apetite e a
saciedade e, aparentemente, ele sinaliza para o cérebro que a gente está mais
saciado, como se fosse um estado pós-alimentado", afirma o médico.
Metade da população obesa em 2044
Um novo estudo da Fiocruz, instituto ligado ao Ministério da Saúde, traz
um alerta: 48% dos brasileiros serão obesos em 20 anos. Atualmente, esse
número é de cerca de 30% da
população.
"Nosso estudo foi baseado nas tendências históricas nacionais, e a
partir desse histórico da última década, nós projetamos o que aconteceria se
mantiverem essas mesmas tendências. A nossa preocupação é que a nossa tendência
é de um crescimento praticamente linear da obesidade, a ponto que nós vamos ter
praticamente metade da população com obesidade se nada for feito em termos de
políticas para prevenir e para tratar os casos", explica o pesquisador
Eduardo Nilson, coordenador do estudo.
Há, ainda, outro temor: o sobrepeso.
Se somada essa condição à obesidade, o percentual chega a 75%, também em duas
décadas, aproximadamente 130 milhões de pessoas com a saúde em risco devido as
doenças associadas ao excesso de peso. Um temor para essa e para a próxima
geração.
"A mesma tendência de aumento ocorre com crianças e com
adolescentes, então nós temos um risco ainda aumentado de ter novas gerações
com prevalências ainda maiores de obesidade, talvez se nada for feito",
prevê Nilson.
O mesmo estudo aponta que, em 20 anos, 1,2 milhão de brasileiros devem
morrer em decorrência da doença.