O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central
(BC) decidiu acelerar o ritmo de alta do juro básico do país. A autoridade
monetária elevou, ontem (6), a Selic em
0,50 ponto percentual. A taxa agora sobe de 10,75% para 11,25% ao
ano.
Com a atualização, o
juro retoma o patamar de janeiro deste ano. No
entanto, naquela ocasião, a Selic andava na direção oposta.
“O cenário segue marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o que demanda uma política monetária mais contracionista”.
O Copom também voltou a alertar sobre atos recentes da política fiscal, que impactam a política monetária e os ativos financeiros. Segundo o colegiado, o cenário fiscal afeta a percepção dos agentes econômicos, impactando a taxa de câmbio:
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
O comentário ocorre em contexto marcado por mau
humor do mercado em relação à indefinição sobre o pacote de
cortes de gastos do governo federal, aguardado
para esta semana.
— Tivemos um mês com deflação, mas foi um caso atípico e por conta da energia. Nós temos uma inflação crescente, inclusive hoje está acima do teto da meta do Banco Central, então ele tem de realmente fazer algum movimento de alta para trazer a inflação para a meta.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) divulgou nota em que reconhece a importância da alta do juro para conter a inflação, mas pondera que a medida constitui "sério problema" para a indústria.
“Não aprovamos esta alta, que é muito prejudicial ao setor industrial. Entendemos que essa decisão impõe desafios adicionais ao setor produtivo, especialmente para as indústrias do Rio Grande do Sul, que enfrentam custos elevados devido à instabilidade cambial e às dificuldades da retomada após as enchentes”, comenta o presidente da entidade, Claudio Bier, que diz esperar que o compromisso com o novo arcabouço fiscal e a diminuição das incertezas globais possibilitem uma política monetária menos restritiva no futuro.
Cenário externo
O Copom também cita que o ambiente externo “permanece desafiador”, principalmente diante da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, que aumenta as dúvidas sobre o ritmo da desaceleração, da desinflação e a postura do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, informa em outro trecho da nota.