O resultado das eleições municipais de 2024 mantém o espectro
político de centro no comando dos municípios mais populosos do Rio Grande
do Sul, mas com a direita conservadora encostando a passos largos.
MDB e PSDB, legendas que governam o Estado há 10 anos,
seguem com o controle do maior número de habitantes. No entanto, essa presença
perdeu parte da força ante 2020 diante da ascensão do PL, que encosta
nessas duas tradicionais siglas da política.
As 30 cidades mais populosas do Rio Grande do Sul abrigam
6 milhões de pessoas, ou 55% dos 10,9 milhões de residentes no Estado, segundo
o Censo de 2022. Destes municípios, MDB, PSDB e PL comandarão 18, onde
vivem 4,3 milhões de gaúchos. Ou seja, juntas, essas legendas vão governar
o equivalente a 40% da população do Estado.
Ao destacar os 30 municípios com maior número de
residentes, fica mais claro identificar os partidos que administram a maior
parte dos gaúchos de forma concentrada em polos políticos e econômicos.
Na eleição de 2020, MDB e
PSDB passaram a governar 4,1 milhões de gaúchos nesse recorte de 30 maiores
populações. No pleito atual, essa parcela caiu para 3,1 milhões. Esse recuo
ocorre ao mesmo tempo em que o PL ingressa no top 30, governando 1,1 milhão de
pessoas.
Alternativa
se consolida
Augusto Neftali, professor
do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da Escola de
Humanidades da PUCRS, afirma que essa composição mostra a inserção da
direita nos grandes centros urbanos. Antes, essa linha política tinha mais
força no Interior, com partidos como o PP. Hoje, com a consolidação dos ideais
políticos defendidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, esse movimento se
espraia para cidades mais populosas:
— Hoje, com a emergência do
PL, que se consolida como uma alternativa identificada do setor da direita,
esse espectro político tem capacidade de inserção nos centros urbanos. Isso
desafia a postura mais tradicional desses partidos de centro direita, como MDB
e PSDB, que até recentemente tinham a função de balancear ideologicamente a
opção de esquerda pelo PT. Agora, estão no meio do caminho entre uma situação
claramente de direita representada pelo PL e a centro esquerda.
Os resultados do PL em cidades com população próxima ou
acima de 200 mil pessoas reforçam a avaliação de Neftali. A sigla substituiu o PSD
em Canoas, o PT em São Leopoldo e o MDB em Alvorada.
O cientista político e professor da UFRGS Rodrigo
González afirma que o fato de o PL ter uma linha ideológica mais definida abre
espaço para essa sigla ser opção em diferentes cenários:
— O PL conseguiu uma
mobilização, digamos, no sentido de ser um partido aparentemente mais
ideológico. Ou seja, uma direita um pouco mais agressiva na pauta de costumes,
entre outras questões, e, de alguma forma, tomou um espaço, seja de uma direita
tradicional, como o PP, seja de partidos que flertavam com esse espaço,
digamos, não muito claramente de posição ideológica.
Levando em conta apenas o número de prefeituras entre as
30 maiores cidades do Estado, o PL vai governar sete delas, dividindo o topo da
lista com o PP. Em 2020, o partido de Bolsonaro não conseguiu ficar neste top
30.
Esquerda
No outro campo político, a esquerda
mostrou sinais de avanço, mas segue no meio do pelotão, distante do
número-chave de 1 milhão de habitantes. Elegendo prefeitos em três das 30
cidades mais populosas, o PT vai comandar 635.523 moradores a partir de 2025 —
398.688 a mais do que o observado em 2020, quando assumiu apenas um Executivo
municipal nesse ranking.
Apesar de perder São
Leopoldo, o PT venceu o pleito em cidades importantes, como Pelotas (quarta
maior cidade do Estado), Rio Grande e Bagé.
— O que a gente tem agora é uma situação na qual o PT é
um ator relevante, mas que precisa conviver com um sistema muito mais complexo,
tanto com uma direita expressiva que antes não estava representada, como com
partidos de centro que muitas vezes preferem tomar uma aliança com setores mais
à direita do que com o PT — avalia Neftali.
Pressão
sobre a centro-direita tradicional e riscos para os bolsonaristas
O cientista político e professor
da PUCRS Augusto Neftali destaca que o MDB e o PSDB, partidos que ocupam o
Piratini desde 2015, vêm perdendo força em redutos importantes,
como Caxias do Sul e Pelotas, nos últimos anos. Isso pode acender um
alerta para as eleições de 2026, acrescenta:
— Esses dois partidos estão
de fato, vamos dizer assim, comprimidos e deslocados do seu espaço mais seguro,
que seria o de representante da opção de centro direita. Na medida em que
agora, com o aparecimento do PL, existe de fato uma opção mais fortemente identificada
com o setor do direita, esses partidos enxergam uma necessidade de reinventar
seus discursos, suas posições políticas e buscar um fortalecimento, uma
identidade junto ao eleitor que não está mais dada simplesmente pelo fato de
não serem o PT.
O professor Rodrigo
González, da UFRGS, afirma que o futuro do PL vai depender da força dos
candidatos ante os adversários em disputas em outros níveis, como o estadual:
— A dúvida é saber se isso
se sustentará. Vai depender muito da próxima eleição, no sentido de que o PL se
criou no Estado a partir de dissidências de outros partidos, seja de deputados,
de políticos que saíram do PP, do União Brasil. Então, da mesma forma que ele
surgiu e se tornou um partido importante, também pode desaparecer se não tiver
uma candidatura viável na próxima eleição.
Destaques
entre os partidos
Dado leva em conta apenas os 30
municípios mais populosos do Estado, segundo o Censo de 2022
MDB
Governou 2.366.051 pessoas em seis municípios após as
eleições de 2020
Vai governar 1.717.503 habitantes em cinco cidades a
partir de 2025
PSDB
Governou 1.757.860 moradores em seis municípios depois
das eleições de 2020
Vai governar 1.427.643 pessoas em seis cidades a partir
de 2025
PL
Governou 148.264 pessoas em 10 cidades após o pleito de
2020
Vai governar 1.123.086 em sete municípios a partir de
2025
PP
Governou 958.672 em 10 cidades depois das eleições de
2020
Vai governar 808 mil moradores em sete cidades a partir
de 2025