A Polícia Civil realiza, na manhã desta
quarta-feira (4), uma operação de combate ao comércio de sementes falsificadas.
A ação acontece no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Minas Gerais.
Os alvos são empresários do ramo agrícola que se uniram
para fraudar grãos que iriam para a indústria de ração, mas que acabam
vendidos como se fossem sementes de altíssima produtividade. Só que eles sequer
germinam.
Dois homens acabaram presos em flagrante porque guardavam
armas irregulares. Eles são também investigados por estelionato, associação
criminosa e lavagem de dinheiro.
A investigação é da Delegacia de Polícia de Repressão a
Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, noroeste do Rio
Grande do Sul. Conforme o chefe da operação, delegado Heleno dos Santos, os
fraudadores venderam sementes de milho falsificadas a dezenas de produtores
rurais gaúchos. Eles tiveram as safras perdidas, porque os grãos não
germinaram.
Os bandidos chegam a pintar os grãos com uma cor
avermelhada, característica de sementes de alta qualidade vendidas por uma
empresa multinacional. Só que o produto é falso. Os rótulos das embalagens
também são adulterados. O lucro dos criminosos é imenso. Isso porque é muito
mais caro adquirir semente do que o grão usado como alimento.
No caso do milho falsificado, uma saca de grãos comuns ou
sementes de baixa qualidade, adquiridas na Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso ou
Tocantins, custa pouco mais de R$ 100. Só que, quando tem seus grãos pintados (para
parecer da marca de alta qualidade), é revendida a por até R$ 1,2 mil — um
lucro de mais de R$ 1 mil por saca.
O cálculo é que os golpistas tenham deixado um
rastro de R$ 13 milhões de prejuízo apenas numa safra. Não se sabe há
quantos anos o golpe existe. Os falsificadores, em sua maioria, são gaúchos
radicados na Bahia. As vítimas, moradores da região das Missões, noroeste do
Rio Grande do Sul.
Os policiais cumprem 41 mandados judiciais de busca e
apreensão e também 18 de confisco de contas bancárias. A ação acontece nas
cidades gaúchas de São Luiz Gonzaga e Santo Cristo, assim como dos municípios
baianos de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras.
Dois investigados foram presos em flagrante por posse
irregular de arma de fogo, nas cidades de São Luiz Gonzaga e Luís Eduardo
Magalhães (Bahia).
— As vítimas enganadas perdem, além do dinheiro aplicado
nas sementes, a safra, as horas de trabalho, o empreendimento daquele ano —
resume o delegado Heleno.
Esquema incluía gráficas e revendedores
O milho é tingido de vermelho e libera resíduos quando está
recém pintado. Policiais pegaram amostras e a tinta ficou nas mãos deles.
A investigação aponta que as sacas de milho usadas na
falsificação imitam de forma quase perfeita os invólucros originais. Eram
falsificadas em São Paulo e na Bahia, em gráficas que são alvo de buscas.
Depois de ensacadas, as falsas sementes eram transportadas em caminhões até o
Rio Grande do Sul e outros Estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde
eram revendidas a produtores rurais.
O esquema contava com representantes comerciais e
corretores, que procuravam as cooperativas e produtores vítimas, intermediando
as vendas. Além desses, o grupo criminoso usava empresas que atuavam na
função de "laranjas", para que as sementes falsificadas chegassem até
os agricultores.
Para burlar a fiscalização, os criminosos falsificavam
documentos fiscais e agropecuários. Um escritório de contabilidade de São Luiz
Gonzaga e um profissional da computação em Carlos Barbosa (na serra gaúcha)
eram os encarregados das falsificações, sendo que suas casas e escritórios
também são alvos das buscas.
O principal chefe do esquema criminoso, conforme a Polícia
Civil, era visto em São Luiz Gonzaga como um pequeno comerciante informal de
insumos agrícolas, com reduzido patrimônio e pouca renda.
Levava uma vida aparentemente modesta, sem chamar a
atenção. Depois que fez sociedade com outro pequeno comerciante do Paraná,
constituiu com ele empresa na Bahia e os dois viram seus patrimônios aumentarem
exponencialmente em poucos anos.
Tudo, segundo os policiais, graças à venda de sementes
falsificadas ou pirateadas, principalmente milho e soja. Eles atuavam também em
São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Distrito Federal, Tocantins e Goiás.
Para comprovar o uso de "laranjas", a Polícia
Civil fez análise das contas bancárias dos envolvidos, abrangendo ainda a
transformação da renda do crime e bens. Entre eles, carros de alto valor,
alguns dos quais somente eram usados pelos criminosos no Estado da Bahia, para
não chamar a atenção no RS.
Grande parte da renda do crime ainda circulava por contas
bancárias de parentes dos golpistas e empresas criadas unicamente para tal
finalidade. Eles responderão, além de estelionato, por lavagem de
dinheiro.