Sete meses após a maior tragédia climática enfrentada pelo
Rio Grande do Sul, 1,2 mil animais resgatados ainda aguardam por um
lar. Os dados são da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS
(Sema), contabilizados a partir de informações enviadas pelas prefeituras ao
Estado.
Os números foram recebidos pela reportagem de Zero
Hora nesta quarta-feira (4). Os animais que aguardam um lar após passarem
pela cheia estão dispostos em 13 locais, espalhados por todo o Estado.
Logo após a enchente, o RS chegou a contar com mais de
490 abrigos e 20 mil animais acolhidos. Foi a partir da solidariedade dos
adotantes e de um conjunto de ações realizadas por voluntários e pelos governos
municipais e estadual que o número foi diminuindo a cada mês. Contudo, o atual
cenário indica que apesar das contínuas mobilizações, o interesse pela
adoção diminuiu.
— Cada dia a mais fica mais difícil a adoção, porque os
animais que restam nessa etapa, após tantos meses de campanhas, são, em
geral, os mais idosos e, eventualmente, com algum comportamento que
as pessoas julgam menos atrativo, como, por exemplo, animais bravios e com
alguma deficiência física — explica o vice-governador Gabriel Souza.
Conforme o vice-governador, que também é médico veterinário
de formação, é possível que famílias se surpreendam positivamente com as
adoções de animais idosos ou com alguma questão de saúde, pois eles também
ofertam companheirismo e amor aos tutores após o período de adaptação.
— Uma série de papers publicados na academia mostram
que a qualidade de vida de seres humanos que convivem com um animal é
maior em virtude da companhia que ele traz, do bem-estar, do envolvimento
emocional. Mas, para isso, demanda atenção da família que adotou no sentido da
adaptação do animal na nova rotina, na nova vida. É preciso ter paciência,
porque realmente o animal vai demandar um tempo de adaptação — acrescenta.
Capital registra devoluções
Em Porto Alegre, cidade que concentrou a maior
fatia de animais resgatados da cheia de maio, 270 bichinhos, entre cães e
gatos, ainda esperam por uma família, segundo dados repassados pela prefeitura
à reportagem ontem (4).
Apesar de menor do que em comparação com o auge da
enchente, quando aproximadamente 6 mil animais estavam alocados em mais de
60 abrigos de Porto Alegre, o número de bichinhos acolhidos cresceu ao longo de
novembro, segundo a prefeitura.
Zero Hora também registrou, no começo de novembro,
que 200 bichinhos sobreviventes da cheia estavam sob os cuidados da
prefeitura e de voluntários mapeados por ela.
— O que está acontecendo é uma devolução de animais
que estão em lares temporários e até alguns que haviam sido adotados. As
pessoas estão alegando que querem viajar, que não se adaptaram com os animais —
contextualiza Fabiana Ribeiro, secretária do Gabinete Causa Animal (GCA) de
Porto Alegre.
Também de novembro para cá, todos os abrigos
voluntários mapeados pela prefeitura de Porto Alegre foram descontinuados,
acrescentou a secretária.
A partir do fechamento, a prefeitura buscou concentrar os
pets em três albergues credenciados, assim como na Unidade de Saúde Animal
Victória (USAV). Os albergues ficam nos bairros Vila Nova e Lageado.
Desmobilização voluntária
Ao longo dos últimos sete meses, Zero Hora acompanhou a
efervescência dos abrigos voluntários para pets resgatados da enchente,
assim como a desmobilização deles.
Entre os motivos para a queda nas ações solidárias
elencados pelos voluntários, segundo informaram ao jornal à época, estão: a
exaustão dos voluntários pela carga de trabalho nos abrigos, retorno às
atividades cotidianas no pós-enchente, pouco engajamento da sociedade
civil e falta de apoio governamental.
Ações estaduais
Buscando diminuir o número de pets sem lar após a enchente,
o governo estadual esclarece que realizou diferentes ações em conjunto com os municípios.
Entre as ações, estão a promoção de castração, microchipagem, campanhas
publicitárias e feiras de adoção.
Além disso, o Estado disponibilizou R$ 2,4 milhões
para a realização de políticas públicas sobre o tema. Desse montante, R$ 540
mil englobam um convênio com o Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo
(IMVC) para diagnóstico situacional e elaboração das políticas.
O montante de R$ 1,9 milhão será destinado para os
municípios de Canoas, na Região Metropolitana, e Porto Alegre para
realização de feiras de adoção, microchipagem e castração, além da fiscalização
de abrigos e lares temporários. Os repasses serão feitos nos próximos meses,
mediante assinatura de um contrato entre Estado e municípios.
Ações da Capital
A prefeitura de Porto Alegre informou à reportagem que já
investiu cerca de R$ 6 milhões em ações para os animais da enchente desde
maio. O montante foi destinado para vacinação, castração e microchipagem
de pets, além de atendimentos veterinários e albergagem. O valor também engloba
os 60 veterinários e 40 jovens aprendizes que foram contratados para apoio nos
abrigos voluntários do pós-cheia.
Em setembro, foi firmado o acordo com as empresas de
albergagem de animais. O contrato tem duração de seis meses, mas a prefeitura
já sinalizou que irá renovar por mais meio ano.
Enquanto isso, a prefeitura está realizando a construção
de um canil para acolhimento de animais junto à Unidade de Saúde Animal
Victoria (USAv), na Lomba do Pinheiro, na Zona Leste. O novo abrigo terá
capacidade para acolher até 300 cães e contará com piso lavável, além de
estrutura de baias independentes. A previsão é de que até março pelo menos 200
baias já estejam prontas.
Veja como adotar
O governo do Rio Grande do Sul disponibiliza um site para
adoção de cães e gatos resgatados da enchente. Acesse em: sosenchentes.rs.gov.br/assistencia-para-animais.
A prefeitura de Porto Alegre convida todos os interessados
em adotar um pet da enchente ou resgatado de situação de maus-tratos a enviar
um e-mail para gp.causaanimal@portoalegre.rs.gov.br. Por meio deste
contato, é possível agendar uma visita aos albergues da Capital e conhecer os
animais disponíveis.
O que diz o governo do RS
Desde o início das enchentes, o governo do
Estado vem atuando para garantir o resgate, acolhimento e cuidado com os
animais domésticos, sob a coordenação do Gabinete de Crise de Resposta à Fauna.
Em maio, lançou o Plano Estadual de Resposta à
Fauna, que contempla uma série de ações em prol do bem-estar dos animais
atingidos pelas enchentes, entre as quais um programa de castração e
microchipagem em massa – em uma parceria com o Ministério Púbico, Grupo de
Resgate a Animais em Desastres e hospitais veterinários universitários - bem
como campanhas de adoções de animais em abrigos.
Para seguir avançando nas políticas de manejo
de animais após as enchentes no Rio Grande do Sul, o governo do Estado criou,
dentro Câmara Temática do Meio Ambiente no âmbito do Conselho do Plano Rio
Grande, um grupo de trabalho para discutir iniciativas pelos animais com
entidades e protetores, e promoveu feiras de adoção.
O Decreto nº 57.768, de agosto de 2024,
instituiu o Programa Emergencial de Manejo da População de Cães e Gatos em
Abrigos, visando o bem-estar, adoção e esterilização dos animais resgatados das
enchentes de abril e maio de 2024. Ele prevê repasses do Fundo do Plano Rio
Grande para municípios em estado de calamidade, que deverão realizar feiras de
adoção, garantir o bem-estar animal, microchipagem e castração, além de
fiscalizar abrigos e lares temporários.
Os abrigos e lares, selecionados e fiscalizados
pelos municípios, receberão recursos para manter os animais sob os padrões de
bem-estar, com a meta de facilitar adoções responsáveis e garantir suporte
direto e indireto para os animais acolhidos. Até o momento, os municípios de
Canoas e Porto Alegre se habilitaram e enviaram toda a documentação necessária.
Para operacionalizar o Programa, foi criado o
SISPET, plataforma digital que visa fornecer informações para o Governo do
Estado sobre os abrigos, lares temporários e pets dos municípios afetados pelas
enchentes do Rio Grande do Sul.
Dentro desse programa, os municípios devem
encaminhar um plano de desmobilização de abrigos, conforme o número de animais
previstos. Com base nesses dados e com o andamento do programa estaremos
estudando alternativas de apoio aos municípios.
O governo lançou, também, uma campanha
publicitária com foco na adoção dos cães e gatos em abrigos e a contratação de
consultoria técnica do Instituto Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC) para
diagnóstico situacional e apoio na elaboração de políticas públicas. Com o
conjunto de ações, o Estado busca estabelecer um sistema robusto de apoio a
abrigos e lares temporários, garantindo que os animais recebam os cuidados
fundamentais que precisam.
As informações estão disponíveis no link https://sosenchentes.rs.gov.br/assistencia-para-animais