Com chapéu na cabeça e acenos ao público e à imprensa que
aguardavam do lado de fora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou às
12h22 de ontem (15) o Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, onde
estava internado desde a última terça-feira (10).
Do hospital, Lula seguiu para a sua residência localizada
no Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde deverá permanecer até pelo menos a
próxima quinta-feira (19) para recuperação.
Pouco antes de deixar o hospital, Lula apareceu de
surpresa, acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, na entrevista
coletiva em que os médicos informavam sobre a alta hospitalar. Ele
abraçou os médicos, posou para fotos e agradeceu a Deus e a toda a equipe
médica que o acompanhou no hospital.
“Isso aqui não é uma entrevista, isso aqui é apenas uma
sessão de agradecimento”, disse Lula ao iniciar sua fala, que durou cerca de 15
minutos. “Deus foi muito generoso ao cuidar de mim quando eu caí
no tombo no banheiro”, disse Lula.
Queda
O presidente contou como foi a queda, que resultou em
um hematoma na cabeça. Lula ressaltou que não ocorreu quando ele
cortava a unha do pé no banheiro, como foi amplamente divulgado.
“Faço a questão de explicar a viva-voz que eu não estava
cortando a unha do pé. Eu estava cortando a unha da mão e eu estava sentado. Eu
já tinha cortado a minha unha, já tinha lixado a minha unha e quando eu fui
guardar o estojo, em vez de levantar e abrir a mesa, eu tentei afastar o meu
bumbum do banco. O banco era redondo, acabou e o meu bumbum não levantou e
eu caí. E bati com a cabeça na hidromassagem, sabe, e teve um estrago razoável.
E eu, graças a essa turma de médicos que está aqui, eu, outra vez, me
recuperei”, contou Lula.
Após o tombo e exames iniciais, o presidente achou que
estava “completamente curado” e que já poderia exercer normalmente suas
atividades cotidianas. "Achei que já podia fazer de tudo: voltei a fazer
esteira, musculação. Viajei para o Rio de Janeiro, participei do acordo da
União Europeia com o Mercosul, já que era uma questão de honra fazer o acordo.
Voltei para o Brasil tranquilamente".
Dias antes da emergência
O presidente relatou quais sintomas sentiu antes de ser
internado para a cirurgia de emergência de drenagem do hematoma na cabeça,
ainda consequência da queda no banheiro.
"Fui em uma homenagem feita para Janja na sexta-feira
e estava bem. Passei bem o sábado. No domingo, já estava sentindo a dor de
cabeça e os médicos haviam me alertado que, qualquer problema de dor na cabeça,
eu teria que comunicá-los. Eu achava que não estava com dor de cabeça porque eu
tomei banho na piscina e tomei sol e eu estava achando que era um problema
provocado pelo sol”.
No dia seguinte, no entanto, acordou com mal-estar.
“Na segunda-feira, eu acordei sentindo algumas coisas
estranhas. Meus passos, a dor de cabeça continuou, mas eu ainda continuei
achando que era por causa do sol. Quando foi no final da tarde, eu mandei
chamar a doutora no meu gabinete e disse para ela que eu estava sentindo umas
coisas estranhas. Eu estava sentindo meus passos mais lentos, eu estava com os
olhos vermelhos, eu estava com muito sono”.
Cirurgia
Foi então que o presidente passou por uma bateria de exames
no Hospital Sírio-Libanês, ainda em Brasília, que constataram, segundo o
próprio Lula, “um volume de crescimento da quantidade de líquidos na minha
cabeça”. Foi então que o presidente acabou sendo encaminhado para a unidade do
hospital, em São Paulo, na terça-feira de madrugada para uma cirurgia de
emergência.
“E quando chegamos aqui, eu nem sei o quanto tempo ele
demorava para fazer a cirurgia, que foi abrir a cabeça, foi tirar o líquido”,
disse Lula.
Só depois da cirurgia,
afirmou ter tomado ciência da gravidade de seu estado.
“Só fui ter noção da gravidade já depois da cirurgia
pronta. Mas eu estou tranquilo, me sinto bem”, acrescentou.
Lula disse que ainda sente um pouco de dor na cabeça. “Eu
fui tratado aqui [no hospital] com muito carinho, apesar das dores que eu estou
sentindo na minha cabeça. Eu pus um chapéu para vocês não verem o curativo que
o doutor Marco acabou de fazer agora. Eu não quero que vocês vejam, porque eu
sou um cara teoricamente bonito, mas minha cabeça está me deixando um pouco
feio”, brincou o presidente.
Emoção
Emocionado, Lula disse que agora “está certo que está
curado”, mas que precisará se cuidar, sem poder fazer exercícios físicos
intensos.
“Preciso ficar pelo menos 60 dias, mais ou menos tranquilo,
mas posso voltar a trabalhar. Fico em casa até quinta-feira aqui em São Paulo,
vou fazer a última tomografia e depois eu vou voltar a trabalhar. Tenho reunião
ministerial para fazer até o final do ano, eu tenho que decidir sobre o
Natal com os catadores de material reciclado aqui que eu faço todo ano em São
Paulo. Não vou para a praia, vou passar o Natal em casa, vou passar o Ano Novo
em casa e vou tentar obedecer, com respeito e educação, aos médicos. Sou muito
disciplinado”, disse o presidente a jornalistas.
Durante a fala à imprensa, Lula disse ainda: “Eu nunca
pensei que vou morrer, mas eu tenho medo. Então eu preciso me cuidar e eu sei
me cuidar muito bem”, brincado que pretende viver até os 120 anos. “Vocês sabem
que eu reivindico o direito de viver até 120 anos e eu acho que eu tenho o
direito de reivindicar que seja eu”.
Volta com tranquilidade
“Estou voltando com muita tranquilidade. Tenho muito
trabalho para fazer", disse.
"Tenho um compromisso com esse país e com o povo
brasileiro, e eu quero deixar a Presidência da República, do mesmo jeito que eu
deixei em 2010, de cabeça erguida, consciente de que esse país estará muito
melhor”, finalizou Lula.
Alta hospitalar
Na manhã de hoje, Lula recebeu alta hospitalar. No entanto,
os médicos alertaram que não se trata de uma alta médica, pois o
presidente ainda continuará sendo monitorado. “Ele está de alta
hospitalar, não alta médica”, esclareceu o cardiologista Roberto Kalil Filho.
Por isso, disse o médico, o presidente precisará continuar na capital paulista
por mais alguns dias para acompanhamento. Na próxima quinta-feira (19), Lula
deverá passar por exames no hospital, entre eles, uma tomografia de controle.
O presidente não poderá fazer exercícios físicos nos
próximos dias, mas poderá voltar ao trabalho, dentro de um protocolo médico.
“Ele vai ficar em São Paulo, na residência dele aqui. Ele pode conversar e até
despachar da casa dele, mas em São Paulo. Na quinta-feira ele vai ser
reavaliado com a tomografia e se tudo estiver bem, ele poderá ir para
Brasília”, disse o médico.
Lula está autorizado a viajar de avião, desde que sejam viagens curtas. As internacionais, por enquanto, estão suspensas.