A criança de 10 anos que comeu um bolo com a família em
Torres, no Litoral Norte, recebeu alta do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes
no início da noite de ontem (3). O menino estava internado desde a véspera do
Natal e chegou a receber cuidados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Três pessoas morreram após consumir o bolo, que continha arsênio, conforme
análise da perícia da Polícia Civil. A criança perdeu a mãe, Tatiana Denize
Silva dos Anjos, a avó, Neuza Denize Silva dos Anjos, e a tia-avó e madrinha,
Maida Berenice Flores da Silva.
De acordo com o boletim médico, a mulher que preparou o
bolo, Zeli dos Anjos, de 60 anos, permanece na UTI em estado estável. Todos os
internados apresentaram crises intensas de vômito e diarreia.
O caso é investigado pela Polícia Civil, que não descarta qualquer hipótese no
momento. O intuito é esclarecer se a presença do composto químico no bolo foi
proposital ou acidental.
Pedido de oração em carta
Enquanto estava hospitalizado, o menino chegou a escrever
uma carta pedindo orações por ele e pelos familiares que morreram. O documento
era endereçado a dois padres, que celebravam missas frequentadas pela criança.
"Querido padre Leonir ou Almo, quero pedir que minha mãe, dinda e vó descansem em paz. Que Deus acolha elas e dê a paz eterna. Eu não posso estar presente pelo motivo de estar hospitalizado ainda. Gostaria que fizessem uma orações por elas e por mim. Obrigado" escreveu.
Padre da Paróquia São Domingos de Torres, Leonir Alves diz
que recebeu a carta em mãos do avô do menino. Ele detalha que não costumava
conversar com a família, mas que a via com frequência no templo.
Leonir conta que se emocionou ao ler a carta e revela que a comunidade rezou
pelo menino ao fim da missa.
— Quando eu abri, eu também fiquei emocionado com o
convite, porque uma criança escrevendo daquele jeito e com toda essa tragédia.
Daí eu só perguntei 'eu posso ler aqui pra rezarmos juntos?' Então, no final da
missa, eu li a cartinha e pedi pra comunidade toda rezar conosco, por ele —
afirmou.