As prefeituras gaúchas vão
passar por uma renovação significativa nestas eleições.
Os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que somente
47,5% das cidades têm candidatos à reeleição no Executivo — proporção inferior à média
nacional de 54% e o terceiro percentual mais baixo entre
todos os Estados. Na ponta de cima desse ranking, em comparação, sete em cada
10 municípios do Pará contam com os atuais gestores na disputa.
Dois fatores ajudam a explicar o menor espaço
para a continuidade política no Rio Grande do Sul: a
quantidade de prefeitos que já se encontram no segundo mandato, e por isso ficam impedidos de concorrer a um terceiro, e
uma menor disposição em se manter no cargo em
comparação a colegas de outras regiões do país.
A legislação
brasileira prevê a possibilidade de apenas duas eleições consecutivas para os
cargos de prefeito, governador ou presidente. Conforme um levantamento da
Confederação Nacional dos Municípios (CNM), há 200
gestores impedidos de figurar nas urnas por essa
razão no Estado, e outros 297 habilitados a tentar se manter na
cadeira.
Isso significa que 60% dos atuais governantes
poderiam se candidatar, contingente já um pouco abaixo do patamar nacional de
62%. Aí entra o segundo fator que reduz ainda mais a proporção de quem busca se
reeleger em solo gaúcho.
Desse universo de 297 possíveis candidatos a
uma nova diplomação, os dados do TSE demonstram que 21%
decidiram abandonar a corrida eleitoral antes
mesmo da largada, restando 236 nomes determinados a continuar nos
paços municipais (conforme os registros
atualizados até quarta-feira, 28). Somente Santa Catarina apresenta um índice
de desistência superior ao dos gaúchos em todo o país, com 24%, enquanto a
média nacional é de apenas 13%.
— Percebemos um desinteresse crescente em
participar da vida pública, pelo menos como prefeito, em todo o país e em
especial no Rio Grande do Sul. Há cada vez mais atribuições para as
prefeituras, enquanto o orçamento permanece o mesmo. Da carga tributária de 33%
do PIB, só 6,5% vão para os municípios — analisa o presidente da CNM e
ex-prefeito de Mariana Pimentel, Paulo Ziulkoski.
Um estudo divulgado pela CNM no dia 15 de
agosto investigou as principais razões alegadas pelos políticos que disseram
não ter interesse em disputar novamente o voto dos eleitores. No Estado, os
motivos apresentados com mais frequência foram "falta de interesse" e
"acordos político-partidários", ou seja,
negociações que levam à escolha de outros nomes por razões estratégicas.
Completam a lista "problemas pessoais", "dificuldade na
gestão" e impedimento "por questões legais", entre outros itens
menos citados.
— Um prefeito pode assumir no dia 1º e, no dia 2, já estar respondendo a processos por improbidade administrativa. Basta dar continuidade a algum projeto anterior que tenha algum problema, ficando sujeito a indisponibilidade de bens. Se é algo doloso, eu até concordo. Mas, muitas vezes, isso ocorre por questões complexas envolvendo a gestão pública. Se recebe dinheiro para merenda, não pode usar para transporte escolar, por exemplo. Muita gente qualificada está deixando de concorrer por receio — complementa Ziulkoski, ressaltando que o Estado tem tradição de fiscalização forte por parte dos órgãos de controle.