Publicado em 23/09/2024 às 14:56

O velho e seu neto

Era uma vez um velho muito velho, quase cego e surdo, com os joelhos tremendo. Quando se sentava à mesa para comer, mal conseguia segurar a colher. Derramava sopa na toalha e, quando, afinal, acertava a boca, deixava sempre cair um bocado pelos cantos.

O filho e a nora dele achavam que era uma porcaria e ficavam com nojo. Finalmente, acabaram fazendo o velho se sentar num canto atrás do fogão. Levavam comida para ele numa gamela de barro e – o que era pior – nem lhe davam o bastante.

O velho olhava para a mesa com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas. Um dia, suas mãos tremeram tanto que ele deixou a tigela cair no chão e ela se quebrou. A nora ralhou  com ele, que não disse nada, só suspirou. Depois ela comprou uma gamela de madeira bem baratinha e era aí que ele tinha de comer.

Um dia, quando estavam todos sentados na cozinha, o neto do velho, que era um menino de quatro anos, estava brincando com uns pedaços de pau.

                – O que é que você está fazendo? – perguntou o pai.

O menino respondeu:

– Estou fazendo um cocho para papai e mamãe poderem comer quando eu crescer.

O marido e a mulher se olharam durante algum tempo e caíram no choro. Depois disso, trouxeram o avô de volta para a mesa. Desde então passaram a comer todos juntos e, mesmo quando o velho derramava alguma coisa, ninguém dizia nada.

O texto acima foi escrito pelos Irmãos Grimm e traduzido por Ana Maria Machado, grande escritora brasileira. Encontra-se em O Livro das Virtudes, de William J. Bennett, volume 1, à página 102. Os dois volumes dos livros com o mesmo título  contêm dezenas de textos em prosa e em poema cheios de virtudes e perpassados em alto engenho e arte literária. Merecem leituras de todos os estudantes de oitavas séries para cima e de todos os demais cidadãos.

Assim, na evocação do texto, que traz fato acontecido no passado ao presente, e na sugestão, que sugere o fato do presente ao futuro, faz bem dizer quão bom seria se na Terra não houvesse mais um sequer vovô, sogro e pai nem sequer mais uma vovó, sogra e mãe sofrendo o que sofreu na casa familiar, ou ainda mais e pior, o vovô,  sogro e pai da história narrada pelos germânicos Irmãos Grimm.

 

 



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