Com as graves enchentes enfrentadas em grande parte das
cidades do Rio Grande do Sul, especialistas e autoridades alertam para risco de
transmissão de doenças infectocontagiosas, entre elas, a dengue. Com 131 óbitos registrados no Estado pela doença,
conforme o governo do Estado informou ontem (8), o surto
continua, e pode
se agravar em meio à crise climática.
Em
2022, ano até então considerado com recorde de mortes por dengue, foram 66
óbitos. Além das 131 mortes até o momento em 2024 ,
o balanço desta quarta-feira da Secretaria de Saúde informa que o RS tem 105.881 casos
confirmados e 36.839 em investigação. O painel de acompanhamento da doença mantido pelo governo
estadual está fora do ar por conta do desligamento do data center na Procergs.
De
acordo com a médica infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA),
Caroline Deutschendorf, o cenário é propício para proliferação do mosquito.
— Os mosquitos estão com um ambiente favorável à
reprodução, com muita água parada disponível, que serve como reservatório para
a fêmea colocar os ovos. Em poucas semanas, pode haver maior disseminação de mosquitos. Já vínhamos enfrentando uma
frequência aumentada de casos de dengue, e pode haver ainda mais transmissão,
se isso acontecer — explica.
Médicos
da instituição organizam um plano de ação para lidar com o aumento da demanda no
hospital, com a
possibilidade de elevação de casos das infecções. Pelo grande número de pessoas
desabrigadas, torna-se ainda mais difícil controlar o surto devido
ao excesso de pessoas expostas, segundo Caroline, que é
coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HCPA.
Carmen
Gomes, técnica do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes,
iniciativa da Secretaria Estadual da Saúde do RS (SES), diz que os esforços de combate ao mosquito estão temporariamente suspensos, neste momento, por conta da incapacidade de
operacionalizar as ações.
—
Quando as águas baixarem e os resíduos começarem a surgir, a atenção será
voltada ao recolhimento desses depósitos, para que eles não permaneçam com
resquícios de água e nem acumulem mais. Toda a ação de controle do vetor Aedes aegypti está
voltada à eliminação de criadouros — afirma.
Carmen
ainda destaca que, com a força da água, é provável que tenham sido destruídos reservatórios
que porventura tivesses ovos do mosquito. Mesmo assim, as
pessoas devem continuar tomando todos os cuidados necessários com a doença,
especialmente em áreas mais vulneráveis.
Recentemente,
a prefeitura anunciou um pacote de medidas para reforçar o enfrentamento à
dengue e demais problemas respiratórios, com a proximidade do
frio. A Capital
terá contratação de 148 profissionais de saúde e 204 novos leitos, entre outras
ações.
Cuidados
redobrados
A queda da temperatura no
Estado pode contribuir no controle da dengue, conforme
Caroline Deutschendorf. Impulsionada pelo vento sul, uma massa de ar polar está
vindo para o RS pela Argentina, e deve trazer frio nos próximos dias.
Mesmo assim, sempre que possível, é necessário manter os cuidados com as doenças
infectocontagiosas,
alertam os especialistas.
—
Sempre que possível, as pessoas devem fazer este controle. Beber água potável,
usar repelente se houver acesso a ele, e tentar manter medidas de higiene
básica, isso pode proteger. Tentar minimizar a exposição à água parada e
utilizar equipamentos de proteção se for necessário entrar nela também ajuda —
explica a infectologista do HCPA.
Nesta semana, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde divulgou um guia voltado à população e aos profissionais de saúde, sobre os riscos e cuidados em situação de enchentes. O material traz orientações relacionadas a infecções transmissíveis, doenças relacionadas ao consumo de água ou alimentos contaminados, como hepatite A, enfermidades transmitidas pelo contato com a água das inundações, como leptospirose, alergias e problemas respiratórios, acidentes com animais peçonhentos e condições sanitárias em abrigos, entre outras questões.