Publicado em 18/10/2024 às 14:21

Futebol, crime e política

Não sei bem ao certo como iniciar a escrita, mas já que estamos em semana de clássico futebolístico, talvez a melhor maneira seja anunciando a escalação do escrete: Pastor, Gordo, Silas, Fuca, Diabo, Ferrinho, Gigia, Chico, Teleco, Farelo e Cheiroso.

É desconhecida a posição de cada um dos relacionados, mas posso afirmar que não se trata de um time da década de 1960, quando apelidos eram comuns nas escalações. As alcunhas foram extraídas de um processo criminal relacionado à mercancia ilícita de drogas.

O futebol que provoca aguda esperança em adolescentes periféricos, afastando-os das veredas do crime, também serve de palanque para a política. Os governantes utilizam o esporte em suas retóricas, sabem que, sob o delírio do drible, as pessoas às vezes esquecem os desacertos e as ausências nas políticas públicas.

Embora o futebol nunca tenha deixado de fragmentar o concreto em classes, bastando recordar dos setores populares, como a geral e a coreia, é possível dizer que o povo foi arredado das novas arenas, a voracidade do capital não aceita os perdedores - consumidores falhos - nas arquibancadas.
Nesse toar, a Copa do Mundo, em 2014, impôs ao país o definitivo rompimento classista no futebol, não por acaso turbulências políticas e sociais sucederam-se no Brasil naquela época.

As catracas das arenas fecharam-se ao pedreiro que justamente erguera os alicerces dos novos templos do futebol. É nesse contexto que se vê a sociabilidade da arquibancada, enquanto resistência ao individualismo, derrotada em vertiginosa goleada.
“Eu não lembro a última vez que fui ao Maracanã”, disse-me o garçom flamenguista, ainda referindo a necessidade de alimentar a família, não havendo como custear o ingresso ao estádio.

Futebol, crime e política disputam a vida coletiva nas comunidades, interseccionam-se, distribuem sentidos reais e simbólicos, constroem o imaginário social, ofertam e sonegam oportunidades, dizem sobre o viver e o deixar de viver, especialmente para os jovens.

Assim, a partir da reconfiguração da sociedade brasileira do Séc. XXI, que acentua desigualdades até mesmo nas arquibancadas, paira uma dúvida: quem está vencendo o jogo?



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