Publicado em 10/07/2024 às 09:14

Construção de memorial em homenagem às vítimas da boate Kiss começa após 11 anos do incêndio

Construção de memorial em homenagem às vítimas da boate Kiss começa após 11 anos do incêndio
Foto: Ronald Mendes / ESPECIAL

Começa nesta quarta-feira (10) a construção de um memorial da Boate Kiss em homenagem às 242 vítimas que morreram no incêndio, aos 636 feridos e aos familiares deles. As obras começam após 11 anos e seis meses da tragédia, que ocorreu em 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria, na Região Central do RS.

A estrutura será erguida no mesmo prédio onde funcionava a boate, no centro da cidade. Um ato simbólico, às 9h, deve marcar o início das obras, com a remoção do letreiro e da porta principal. Familiares, sobreviventes, entes públicos e moradores do município devem acompanhar o início dos trabalhos, previsto para durar até as 17h.

"A gente entende que o memorial, para além de uma construção feita de tijolo e cimento, é uma construção que se inicia na palavra e carrega muito a história consigo", afirma o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi Barros.

Ele afirma que, além do letreiro e do portão, outros objetos serão retirados para compor um acervo. Esses outros materiais devem formar uma exposição itinerante, que tem como proposta preservar a memória e conscientizar as pessoas sobre a tragédia.

A primeira etapa das obras inclui:

Definição dos itens que farão parte do acervo do memorial da AVTSM;

Remoção do telhado;

Classificação dos resíduos que permanecem no local para retirada de uma empresa especializada;

Abertura de um espaço na entrada central para ingresso de máquinas.

Nos últimos dias, a empresa responsável fez a remoção de alguns itens e colocou tapumes em torno da fachada.

O prazo para a entrega do memorial é de oito meses.

Projeto

projeto vencedor do memorial é do arquiteto paulista Felipe Zene Motta, que propôs a construção de um jardim central e de um único pavimento que seja de fácil construção e manutenção.

O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados. Serão três salas (um auditório com capacidade para 142 pessoas, uma sala multiuso e uma sala que será a sede da AVTSM). Além disso, o espaço contará com um jardim circular ao centro com 242 pilares de madeira em volta – cada um representa uma vítima. Elas conterão o nome de cada vítima e um suporte de flores.

"Hoje ficou aquela ruína de boate, aquele monstro que todo mundo passa e remete imediatamente à tragédia. E por mais que o memorial tenha o objetivo de transformar aquele lugar numa coisa que transmita uma paz para os familiares, que dê algum tipo de conforto se é que isso é possível para eles, essa memória da tragédia não pode ser apagada", afirma o arquiteto.

O projeto foi escolhido por meio de um concurso, em 10 de abril de 2018, entre 121 propostas inscritas de 14 estados brasileiros. A iniciativa foi realizado no dia em que a tragédia completou cinco anos, em 27 de janeiro de 2018.

Orçamento milionário

A empresa responsável pela execução da obra é a INFA Incorporadora Farroupilha, de Triunfo, que venceu a licitação. O custo do projeto é de R$ 4.870.004,68.

Parte do valor será custeada com verbas do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do MPRS, que, em maio de 2023, oficializou o repasse de R$ 4 milhões. O restante será pago pela Prefeitura de Santa Maria.

"Este memorial, além dele lembrar a tragédia e homenagear as vítimas, também vai ser um marco à prevenção, porque ele já vem com um pré-aviso que, a partir de agora, dessa era da construção do Memorial às vítimas da Kiss, a associação vai intensificar a questão da prevenção", afirma o pai de uma das vítimas, Flávio Silva.

Caso Kiss

Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em um domingo, um incêndio atingiu a boate Kiss, no centro de Santa Maria. 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas, após fagulhas de dispositivos pirotécnicos atingirem a espuma acústica que revestia o teto da boate. Uma fumaça tóxica se espalhou pela casa noturna ao pegar fogo.

Em dezembro de 2021, o tribunal do júri condenou quatro réus:

Elissandro Callegaro Spohr (empresário e sócio da casa noturna): 22 anos e seis meses de reclusão;

Mauro Londero Hoffmann (empresário e sócio da casa noturna): 19 anos e seis meses;

Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda que levantou o artefato pirotécnico): 18 anos de prisão;

Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor que comprou e ativou o fogo de artifício): 18 anos de prisão.

No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o júri em 3 de agosto de 2022 alegando irregularidades na escolha dos jurados, reunião entre o juiz presidente do júri e os jurados, ilegalidades nos quesitos elaborados e suposta mudança da acusação na réplica, o que não é permitido.

Em 5 de setembro de 2023, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a anulação do júri por quatro votos a um.

Em 2 de maio deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal o reestabelecimento da condenação dos quatro réus. A Procuradoria alega que as nulidades apontadas pelo Tribunal durante análise do caso pelo tribunal do júri não causaram prejuízo aos acusados.

Os quatro réus aguardam o júri em liberdade.


Fonte: G1 RS

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