Depois de um desgastante júri e estrada entre Palmeira das Missões e Porto Alegre, lá estava eu no posto de combustível, não para abastecer o veículo, mas para recarregar a minha bateria com um balde de café.
Não sabia que dezenas de audiências de custódias tratando das misérias humanas seriam realizadas no plantão criminal, e sabe-se lá quantos flagrantes também seriam lavrados na sexta-feira. Então, café.
Confesso:
não consigo cumprir as tarefas diárias sem boas doses de cafeína ao longo do
dia. Preparo o café de diversas maneiras, em grãos, usando moedor, na prensa
francesa; em pó, no filtro de papel; cápsulas apenas quando a correria do
cotidiano não permite uma pausa.
Apesar
dos inquietantes temas da semana, especialmente nos campos da política e
economia, a cada gole, sentindo os olores que confortam a alma, percebia que
deveria escrever sobre o café.
Em
minutos precisava levar a Valentina até a escola, semana de provas, não haveria
tempo para tomar o café no posto. A opção seria andar com aquele copo pleno por
algumas quadras, tomar grandes goles, cuidando para que o líquido não deixasse
marcas na camisa.
Entre
freadas, aceleradas, curvas e paradas, uma coisa estranha sobreveio em minha
cabeça. O ato de equilibrar o copo de café apareceu como algo magnífico naquela
típica manhã de primavera.
Segurar
o copo de café, sem derrubá-lo, ainda que simbolicamente, revela o desejo de
uma vida equilibrada, que é algo muito desafiador, nada simples de ser
alcançado.
A
dinâmica social da modernidade, que acelerou a vida, tornando-a repleta de
inseguranças, parece ser um grande obstáculo para uma vida equilibrada sob os
aspectos internos ou externos.
Talvez
o equilíbrio esteja nas pequenas coisas, como a felicidade, talvez relacionado
às nossas escolhas. Se eu tivesse derrubado o café, bem possível que o dia
começasse com um certa desarmonia, provavelmente haveria um arrependimento.
A
lição do dia não teve muita complexidade: alcançar o equilíbrio faz bem,
inclusive para a camisa e o casado que não restaram maculados com desuniformes
manchas de café.