Publicado em 29/11/2024 às 14:38

O copo de café

Depois de um desgastante júri e estrada entre Palmeira das Missões e Porto Alegre, lá estava eu no posto de combustível, não para abastecer o veículo, mas para recarregar a minha bateria com um balde de café.

Não sabia que dezenas de audiências de custódias tratando das misérias humanas seriam realizadas no plantão criminal, e sabe-se lá quantos flagrantes também seriam lavrados na sexta-feira. Então, café.

Confesso: não consigo cumprir as tarefas diárias sem boas doses de cafeína ao longo do dia. Preparo o café de diversas maneiras, em grãos, usando moedor, na prensa francesa; em pó, no filtro de papel; cápsulas apenas quando a correria do cotidiano não permite uma pausa.

Apesar dos inquietantes temas da semana, especialmente nos campos da política e economia, a cada gole, sentindo os olores que confortam a alma, percebia que deveria escrever sobre o café.

Em minutos precisava levar a Valentina até a escola, semana de provas, não haveria tempo para tomar o café no posto. A opção seria andar com aquele copo pleno por algumas quadras, tomar grandes goles, cuidando para que o líquido não deixasse marcas na camisa.

Entre freadas, aceleradas, curvas e paradas, uma coisa estranha sobreveio em minha cabeça. O ato de equilibrar o copo de café apareceu como algo magnífico naquela típica manhã de primavera.

Segurar o copo de café, sem derrubá-lo, ainda que simbolicamente, revela o desejo de uma vida equilibrada, que é algo muito desafiador, nada simples de ser alcançado.

A dinâmica social da modernidade, que acelerou a vida, tornando-a repleta de inseguranças, parece ser um grande obstáculo para uma vida equilibrada sob os aspectos internos ou externos.

Talvez o equilíbrio esteja nas pequenas coisas, como a felicidade, talvez relacionado às nossas escolhas. Se eu tivesse derrubado o café, bem possível que o dia começasse com um certa desarmonia, provavelmente haveria um arrependimento.

A lição do dia não teve muita complexidade: alcançar o equilíbrio faz bem, inclusive para a camisa e o casado que não restaram maculados com desuniformes manchas de café.

                 



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