Publicado em 27/12/2024 às 15:16

Caminho novo

O dia misturava o dourado ao barro vermelho. O céu azul encontrava o verde das lavouras de soja no horizonte. Não havia outras cores na tarde quente das Missões. O ar estava morno.

Decidi pedalar até o aeroporto. Mas, como gosto de estrada de chão, algo me dizia que tomaria um desconhecido caminho, e foi assim que tudo aconteceu...

A solitária pedalada pós-natalícia talvez seja uma metáfora para 2025: deixar para trás os caminhos de sempre para seguir um rumo ignorado em nossas vidas.

O que seria dos navegadores sem o desconhecido? O fascinante momento do “terra à vista” não existiria não fosse a coragem para enfrentar o medo que nos impede de seguir por novos caminhos.

Não acredito que o calendário inaugura definitivamente um novo ciclo, mas é o que temos, simbolicamente, para reconhecer o início e o término de um ano.

Um novo caminho, aliás, pode ser obra do acaso, como me ocorreu horas depois da pedalada. O aplicativo indicava a direção de Salto do Jacuí para chegar a Porto Alegre.

Logo depois de Cruz Alta, o aviso de retorno na tela. A tecnologia também tem suas encruzilhadas. Decidi seguir em frente, sem retornar. Coisa de presságio, talvez intuição de que aquela estrada seria o melhor caminho.

O entardecer estava magnífico, aquele avermelhado costeando a estrada, as estrelas aparecendo para amadrinhar a escuridão e o caminho solitário.

Escutava o samba da Portela que homenageia Milton Nascimento. Um samba lindo: “Nessa estrada, é sonho, é poeira / Passa o trem azul, sigo em paz / Feito Rio, só me leva / Pra Deus filho de Maria / Tantos mares em um cais.”

Dois olhinhos inquietos surgiram na imensidão noturna. O bicho estava fora da estrada. Reduzi bastante a velocidade. O graxaim parecia vigilante no meio do mato.

Não retomei a marcha. Senti uma coisa estranha. Metros depois, o graxaimzinho atravessava a estrada ao encontro da mãe. Ufa! Que alívio! Encerrar o ano responsável pelo luto dos graxains seria muito triste.

Escolhemos os caminhos por algum motivo. Às vezes, não há razão ou compreensão em cada passo, porém seguimos na esperança de que o novo ano será repleto de felicidade.

E, assim, seguimos, pois é nas incertezas do caminho que a vida encontra sua verdadeira essência, nas escolhas e nos encontros inesperados, nos guiando para o que ainda está por vir, embora nunca saibamos onde realmente nos levará.

 



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