Publicado em 26/02/2025 às 15:36

Ter de, ter que e haver de

Há diferença de significados entre ter de, ter que e haver de? Há. Ter de indica obrigatoriedade – tenho de estudar. Ter que indica facultatividade – tenho que estudar. E haver de indica, como indica ter que, facultatividade – hei de estudar. Vejam-se a respeito deste assunto as explicações de dois gramáticos.

Napoleão Mendes de Almeida em Gramática Metódica da Língua Portuguesa diz que a locução verbal com o verbo auxiliar ter seguido da preposição de implica ideia de obrigatoriedade, necessidade, e oferece estes três exemplos: tenho de estudar, tinha de sair e terei de viajar. A locução verbal feita com o verbo ter e o pronome relativo que indica intenção, desejo, vontade, e oferece estes exemplos: tenho que estudar, tinha que sair e terei que viajar. E a locução verbal com o verbo haver seguida da preposição de indica, como indica a locução ter que, intenção, desejo, vontade, e oferece estes exemplos: hei de estudar, havia de sair e haverei de viajar.

No livro ABC da Língua Culta, Celso Pedro Luft leciona que ter de indica necessidade, obrigatoriedade, temos de vencer, temos de fazer o bem. Leciona que ter que não indica necessidade, obrigatoriedade, mas intencionalidade, desejo, vontade, temos que vencer, temos que praticar o bem. Leciona que haver de exprime, como exprime ter que, desejo, intento, deliberação, havemos de vencer, havemos de praticar o bem. E também leciona que hoje no Brasil ter que não só é sinônimo de ter de, mas praticamente seu substituto. Para Luft, ter de é arcaizante e quase afetado, restrito à escrita formal, não à fala em geral das pessoas no dia a dia.

E Napoleão no livro citado apresenta de exemplo esta frase de Antônio Vieira: “... para se conhecerem os amigos, haviam os homens de morrer primeiro e daí a algum tempo ressuscitar”. E o gramático explica que haviam está aí emprego por tinham, mas, como o segundo verbo é intransitivo (morrer), Vieira, com a meticulosidade de quem muito conhecia o idioma, usou a preposição de em vez do pronome que, ao qual nenhuma função caberia na frase. E oferece mais um exemplo dizendo que “ele tem um caso que estudar” é frase errada porque o significado da frase é de obrigatoriedade e não de facultatividade e por essa razão no lugar do “que” deve estar obrigatoriamente “de”, “ele vai ter de estudar o caso”.

Assim, em síntese, usa-se ter de quando se quer dar o sentido de obrigatoriedade e ter que e haver de quando se quer dar o sentido de facultatividade, de desejo. E mais isto: os dois livros aqui citados têm café bom no bule e merecem  estudos sérios para domínio completo deste e doutros  assuntos que nas centenas de páginas eles contêm.



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