Há diferença de significados entre
ter de, ter que e haver de? Há. Ter de indica obrigatoriedade – tenho de
estudar. Ter que indica facultatividade – tenho que estudar. E haver de indica,
como indica ter que, facultatividade – hei de estudar. Vejam-se a respeito
deste assunto as explicações de dois gramáticos.
Napoleão Mendes de Almeida em Gramática Metódica da Língua Portuguesa
diz que a locução verbal com o verbo auxiliar ter seguido da preposição de
implica ideia de obrigatoriedade, necessidade, e oferece estes três exemplos:
tenho de estudar, tinha de sair e terei de viajar. A locução verbal feita com o
verbo ter e o pronome relativo que indica intenção, desejo, vontade, e oferece
estes exemplos: tenho que estudar, tinha que sair e terei que viajar. E a
locução verbal com o verbo haver seguida da preposição de indica, como indica a
locução ter que, intenção, desejo, vontade, e oferece estes exemplos: hei de
estudar, havia de sair e haverei de viajar.
No livro ABC da Língua Culta, Celso Pedro Luft leciona que ter de indica necessidade,
obrigatoriedade, temos de vencer, temos de fazer o bem. Leciona que ter que não
indica necessidade, obrigatoriedade, mas intencionalidade, desejo, vontade,
temos que vencer, temos que praticar o bem. Leciona que haver de exprime, como
exprime ter que, desejo, intento, deliberação, havemos de vencer, havemos de
praticar o bem. E também leciona que hoje no Brasil ter que não só é sinônimo
de ter de, mas praticamente seu substituto. Para Luft, ter de é arcaizante e
quase afetado, restrito à escrita formal, não à fala em geral das pessoas no
dia a dia.
E Napoleão no livro citado apresenta
de exemplo esta frase de Antônio Vieira: “... para se conhecerem os amigos,
haviam os homens de morrer primeiro e daí a algum tempo ressuscitar”. E o
gramático explica que haviam está aí emprego por tinham, mas, como o segundo
verbo é intransitivo (morrer), Vieira, com a meticulosidade de quem muito
conhecia o idioma, usou a preposição de em vez do pronome que, ao qual nenhuma
função caberia na frase. E oferece mais um exemplo dizendo que “ele tem um caso
que estudar” é frase errada porque o significado da frase é de obrigatoriedade
e não de facultatividade e por essa razão no lugar do “que” deve estar
obrigatoriamente “de”, “ele vai ter de estudar o caso”.
Assim, em síntese, usa-se ter de
quando se quer dar o sentido de obrigatoriedade e ter que e haver de quando se
quer dar o sentido de facultatividade, de desejo. E mais isto: os dois livros
aqui citados têm café bom no bule e merecem
estudos sérios para domínio completo deste e doutros assuntos que nas centenas de páginas eles
contêm.