Publicado em 09/10/2021 às 12:00

Evidências eleitorais

Na década de 1960, a Psicologia Cognitiva desenvolveu o process tracing, método utilizado para compreender como as pessoas tomam decisões. Quando um consumidor, por exemplo, compra o produto A, existe um processo que relaciona as condições iniciais ao resultado. 

Compreender os estímulos que afetam as pessoas no processo decisório é uma esquema-chave em várias áreas do saber. Assim, cabe dizer que o mecanismo causal, às vezes imperceptível, pode ser revelado a partir do estudo de evidências. 

A Ciência Política contemporânea tem utilizado o process tracing para encontrar explicações sobre a conjuntura política em determinado contexto social. A questão metodológica, de certo modo, serve à construção de hipóteses em relação às próximas eleições presidenciais no Brasil. 

Desde 1989, o país teve oito eleições presidenciais. Em seis delas, os candidatos disputaram o 2º turno. Desse modo, é razoável inferir que não teremos o eleito em 1º turno. Outra evidência diz respeito à identificação dos dois candidatos mais votados.

Analisando o atual cenário eleitoral, pode-se avaliar a situação de Lula, que, desde 1989 até 2006, esteve na primeira ou segunda colocação no 1º turno em cinco oportunidades. Além disso, o PT, de um total de oito pleitos, chegou ao 2º turno em seis.

Em relação à Bolsonaro, desde a Emenda Constitucional 16/1997, que permitiu a reeleição, o presidente, quando candidato, sempre alcançou a vitória (FHC, Lula e Dilma). Assim, é uma evidência forte de que estará no 2º turno, disputando com Lula o cargo presidencial.

Quem vencerá? A história diz que ninguém perdeu reeleição desde 1998. Todavia, há que se ponderar evidências que possam influenciar a vitória de A, B ou C. Como o eleitor reagirá se a crise social e econômica persistir até 2022? Qual o efeito da pandemia da covid-19, que chegou a 600 mil mortes? Como será a escolha dos eleitores em luto coletivo?

De outro lado, a história já ofertou outras evidências interessantes, como o amargo impeachment, inviabilizando candidaturas; e, não se pode descartar, novamente, impugnações na esfera judicial em desfavor de X ou Y.

É claro que nada está definido. A política é não linear, tem seus episódios imponderáveis. A própria sociedade em rede permite pensar efeitos de além-mar. E, por fim, existe o risco de ruptura democrática, que “no creo, pero las hay”. 



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