Publicado em 19/11/2021 às 14:00

Gerúndio exprime circunstâncias diferentes

Recorda-se neste terceiro encontro sobre o gerúndio absoluto que este é capaz de exprimir muitas e variadas circunstâncias nas frases de quem fala e escreve. Tem ele essa capacidade. Assim, por ter a capacidade de exprimir circunstâncias tão diferentes, como, por exemplo, de causa, condição, concessão, tempo, finalidade e modo, resulta que o sentido exato ou mais exato dele o falante ou o escrevente só pode tirar, apurar e ter pelo contexto da frase. É preciso, portanto, que o falante e o escrevente tenham muito cuidado na classificação do gerúndio, pois frequentemente ele aparece em estruturas de frases apresentando não uma só circunstância, não só uma interpretação circunstancial, mas duas ou mais. Vejam-se quatro circunstâncias próprias de advérbios presentes no gerúndio absoluto nesta frase verbal:

Um homem tendo dinheiro não deve passar fome. A circunstância do gerúndio tendo em um homem tendo dinheiro é uma circunstância. Mas pode ter e tem mais estas três circunstâncias: que tem dinheiro, quando tem dinheiro e se tem dinheiro.

E observe-se, de acréscimo e como reforço, esta frase de Camões: Mastigam os cavalos escumando os áureos freios com feroz semblante. Além da circunstância que o gerúndio escumando tem na frase, tem ele pelo menos mais estas duas: mastigam espumando e os cavalos que escumam.

Posto isso, convém explicitar alguma coisa mais sobre o uso do gerúndio em frases faladas e escritas. Vale para estes detalhes uma frase tirada de Rodrigues Lapa em Estilística da Língua Portuguesa, livro que, diga-se com sinceridade, merece pelo menos uma leitura daquelas. A frase, com o gerúndio em negrita, é esta: Recebeu uma caixa contendo roupa. A construção, cheirando a francesia, muito contrária ao uso da língua clássica e popular, pode ser transformada em duas construções diferentes, ou seja, em recebeu uma caixa que continha roupa e recebeu uma caixa com roupa dentro.

O problema consiste em o falante e o escrevente saberem se de fato o uso do gerúndio traz vantagem gramatical, estilística e comunicativa sobre os outros processos ou não. A primeira frase, como frase relativa com verbo no imperfeito do indicativo – recebeu uma caixa que continha roupa –, tem caráter artificial, além de longa e malsoante. A segunda frase soaria pior ainda se tivesse de acréscimo mais uma relativa – recebeu uma caixa que continha roupa que a tia lhe mandara.

Assim, num reforço, diz-se que o emprego do gerúndio absoluto, em função adverbial, pode ser ampliado e aprofundado, e muito, no estudo gramatical do período composto em orações subordinadas adverbiais reduzidas.



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