Publicado em 26/11/2021 às 14:00

Gerúndio em função adjetiva

Alguns gramáticos, e até de renome, condenam o uso do gerúndio em função adjetiva, mas perdem tempo com essa condenação, pois ontem se viu e hoje se vê, nos mais diferentes meios de comunicação e lugares, inclusive literários, largo emprego do gerúndio em função adjetiva, ou seja, do gerúndio referindo-se a um substantivo. Expôs-se nos três artigos anteriores que a função principal do gerúndio é funcionar como um núcleo adverbial, denotando, portanto, circunstâncias adverbiais diversas. Ele, o gerúndio, não tem só essa função, mas também outra, ou seja, a função atributiva, ou, noutras palavras, a função adjetiva. Com esta função, ele acompanha um substantivo, colocando-se antes ou depois do substantivo. Acompanhando um substantivo, funciona, portanto, como adjetivo.

Para a comprovação do exposto acima, leia-se, por exemplo, o excerto de Luís Vaz de Camões, em cujo trecho o gerúndio, em função adjetiva, está em negrita. Eis o exemplo fraseológico: “Não faltam ali os raios, os trêmulos cometas imitando; em vão assopra o vento, a vela inchando; viram ao longe dous navios brandamente c’os ventos navegando que respiram.”

Posto isso, aqueles que têm certos estudos escolares sabem que antes dos gerúndios existem os substantivos cometas, vela e ventos. Os gerúndios postos depois dos três substantivos – cometas, vela e ventos – funcionam como adjetivos. Os três gerúndios com função adjetiva equivalem, respectivamente e literalmente, a que imitam, que incha e que navegam. Em mais detalhes, diz-se que tanto os gerúndios em si, colocados logo depois dos substantivos, quanto as transformações deles em que imitam, que incha e que navegam possuem, no fundo e na base, o como, o como marcador e identificador do adjetivo numa frase. Na curta frase – o dia está azul –, dia é substantivo e azul é adjetivo. Como alguém pode saber que azul é adjetivo? Ora, fazendo esta simples pergunta: como está o dia? Fazendo-a, acha de cara, com o uso do como, o adjetivo.

Vale de reforço um exemplo de Machado de Assim. Este: “– Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunca vi nada que faça desconfiar. Basta a idade.” Pequenos é substantivo e brincando é gerúndio em função adjetiva. Como estavam os pequenos? Brincando. Brincando equivale a que brincavam – marcas típicas de adjetivo.

Assim, pode-se dizer que não há razão alguma para hoje se condenar o emprego do gerúndio em função atributiva, ou seja, em função adjetiva. Prova? Grandes literatos – ficcionistas e poetas – do passado e do presente usam gerúndios em função adjetiva. O cuidado é este: empregar o gerúndio em função adjetiva com parcimônia, cuidado, sem exagero, no necessário. 



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