O primeiro feriado nacional alusivo ao Dia da Consciência Negra,
celebrado em 20 de novembro, data da morte de Zumbi, instituído pela Lei nº
14.759/23, aproxima-se no calendário.
A data foi idealizada por Oliveira Silveira, intelectual gaúcho,
nascido em Rosário do Sul, um dos líderes do Grupo Palmares, que refutava o 13
de maio, enquanto data representativa da libertação do povo negro no Brasil.
Para alguns historiadores, o primeiro navio negreiro aportou na
costa brasileira em 1530, e a partir de então a tortura e o açoite de corpos
negros tornou-se o alicerce dos diversos ciclos econômicos por mais de três
séculos.
Durante a escravidão, milhões de negros perderam a vida na
travessia atlântica e outros tantos milhões, em terras coloniais, destacando-se
que a expectativa de vida do escravizado, tamanha a crueldade do regime, não
passava de dez anos.
O regime escravocrata, sob o aspecto formal, perdurou até 1888,
proprietários de escravizados foram indenizados, negros, marginalizados, quando
o Brasil, último país a abolir a escravidão na América, sob a falácia do mito
da democracia racial, relegou aos negros espaços subalternizados na sociedade.
Sem terras, sem escolas, sem acesso aos meios de produção,
perseguidos no pós-abolição, o negro enredou-se na miséria dos despossuídos.
Apesar das recentes políticas públicas, as cicatrizes raciais ainda marcam
profundamente o país, basta olhar um pouco para perceber a desproporcionalidade
de negros encarcerados e mortos pelo Estado.
O negro ainda carrega o fardo da suspeição generalizada pelas ruas
e avenidas. Em Sueli Carneiro, “a cor opera como metáfora de um crime de origem
da qual a cor é uma espécie de prova, marca ou sinal que justifica essa
presunção de culpa.”
A estrada para resolver o apartheid à brasileira é longa, e se
isso não for solucionado, não haverá solução para o Brasil, que é
majoritariamente negro. Assim, no dia 20, como em um canto de todas as raças, a
reflexão deve ser coletiva, sem cor, mas pensando o preto.