O Brasil, bem ou mal, sempre foi
um país marcado pelo consenso. A independência não teve morte senão em espasmos
provincianos. A monarquia até hoje anda por aí reivindicando a coroa,
imperadores, mesmo depois da espoliação colonial, jamais subiram ao cadafalso
na transição para o regime republicano.
Os ditadores deixaram o poder de forma negociada, sem a devida
responsabilização pelos crimes praticados contra os filhos da pátria nem tão
gentil – e já fica a dica de cinema: “Ainda estou aqui” é simplesmente
sublime!!!
A cena em que Fernanda Torres
esfrega o corpo para limpar as marcas dos torturadores é de tirar o fôlego. É
um filme magnífico à preservação da memória em um país que se pretende
democrático.
Na Assembleia Constituinte de 1988,
ocorreu uma espécie de acordo constitucional entre os empobrecidos e as elites
aristocráticas, pacto desigual, é verdade.
Desse modo, apesar dos governos de diversos matizes partidários, seguimos sem a
regulamentação do imposto sobre grandes fortunas. Os consensos ideológicos
conseguem fazer o pobre acreditar no confisco do velho automóvel.
Sob a égide dos consensos, que
admitem espaços delimitados às disputas políticas, os brasileiros aprenderam a
conviver sob o império das leis, respeitando o ordenamento jurídico e o sistema
judicial alicerçado nas regras constitucionais, ainda que às vezes injustos.
Todavia, a polarização política,
que não é novidade, transformou-se em ignóbil violência política.
O resultado das urnas foi
contestado com súplicas de regime de exceção, e alguns militares deixaram os
porões ditatoriais para arquitetar um golpe contra o povo.
Em janeiro, cenas lamentáveis de
destruição foram transmitidas para o mundo inteiro diretamente de Brasília.
Agora, a Polícia Federal descobriu um sórdido plano construído por militares de
forças especiais para a morte de adversários políticos.
Ainda testemunhamos algo
impensável na democracia brasileira, o surgimento de atentados com a utilização
de artefatos explosivos, como o caso do terrorista em frente ao STF.
É preciso punir os criminosos que
ousaram violar o regime democrático. Depois, o país deve inaugurar um capítulo
de paz na arena pública, sem o radicalismo político que tem apenas promovido
violência política.