Publicado em 22/11/2024 às 15:47

Violência política

O Brasil, bem ou mal, sempre foi um país marcado pelo consenso. A independência não teve morte senão em espasmos provincianos. A monarquia até hoje anda por aí reivindicando a coroa, imperadores, mesmo depois da espoliação colonial, jamais subiram ao cadafalso na transição para o regime republicano.
Os ditadores deixaram o poder de forma negociada, sem a devida responsabilização pelos crimes praticados contra os filhos da pátria nem tão gentil – e já fica a dica de cinema: “Ainda estou aqui” é simplesmente sublime!!!

A cena em que Fernanda Torres esfrega o corpo para limpar as marcas dos torturadores é de tirar o fôlego. É um filme magnífico à preservação da memória em um país que se pretende democrático.

Na Assembleia Constituinte de 1988, ocorreu uma espécie de acordo constitucional entre os empobrecidos e as elites aristocráticas, pacto desigual, é verdade.
Desse modo, apesar dos governos de diversos matizes partidários, seguimos sem a regulamentação do imposto sobre grandes fortunas. Os consensos ideológicos conseguem fazer o pobre acreditar no confisco do velho automóvel.

Sob a égide dos consensos, que admitem espaços delimitados às disputas políticas, os brasileiros aprenderam a conviver sob o império das leis, respeitando o ordenamento jurídico e o sistema judicial alicerçado nas regras constitucionais, ainda que às vezes injustos.

Todavia, a polarização política, que não é novidade, transformou-se em ignóbil violência política.

O resultado das urnas foi contestado com súplicas de regime de exceção, e alguns militares deixaram os porões ditatoriais para arquitetar um golpe contra o povo.

Em janeiro, cenas lamentáveis de destruição foram transmitidas para o mundo inteiro diretamente de Brasília. Agora, a Polícia Federal descobriu um sórdido plano construído por militares de forças especiais para a morte de adversários políticos.

Ainda testemunhamos algo impensável na democracia brasileira, o surgimento de atentados com a utilização de artefatos explosivos, como o caso do terrorista em frente ao STF.

É preciso punir os criminosos que ousaram violar o regime democrático. Depois, o país deve inaugurar um capítulo de paz na arena pública, sem o radicalismo político que tem apenas promovido violência política.

                



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