Dias atrás, circulando pelo Rio de Janeiro, ouvi de
um motorista a seguinte expressão: “eu quero entrar pra polícia porque eu gosto
mesmo é da contravenção”. Permaneci em silêncio, pensando no significado histórico
daquela emblemática frase.
Na
descida do morro do Vidigal, após fazer a trilha do Dois Irmãos, o mototaxista confidenciou-me
que precisava pagar R$ 250,00/semana e “tributo” sobre as corridas para o dono
do morro.
Alguns
dias depois de deixar a Cidade Maravilhosa, que realmente é uma lugar espetacular,
ainda que seja a cruel expressão das contradições sociais brasileiras, três médicos
foram assassinados em razão de terem sido confundidos com milicianos.
Os
supostos criminosos apareceram mortos no dia seguinte. O tribunal do crime, talvez
acuado pela repercussão midiática, resolvera prontamente a autoria delitiva... arquive-se!
A
história da segurança pública no Rio é complexa, trata-se de um espaço marcado
por perniciosas relações entre Estado, jogo do bicho, tráfico de drogas e, por
derradeiro, milícias.
No
ano de 2018, sob intervenção federal, o emprego das forças armadas custou aos
cofres públicos R$ 72,2 milhões. As operações bélicas, porém, não alteraram a
insegurança no Rio, a militarização das ações policiais tornou-se um rotundo insucesso.
O
Fantástico apresentou os resultados das operações de Garantia da Lei e da Ordem:
o Complexo da Maré tomado por traficantes, que, como militares, treinavam nas
dependências de um clube.
Nas
periferias, transporte, comércio e tráfico de drogas agora são explorados pelos
milicianos, criminosos, que, sob o afago estatal, surgiram para realizar o “combate”
ao crime enquanto justiceiros oriundos das instituições de segurança pública.
Décadas
atrás, jovens portando fuzis era coisa do Rio, a cena tornou-se comum em outros
Estados. Disputas por territórios e confrontos entre grupos criminosos era exclusividade
carioca, hoje não mais.
O
Rio é o epicentro dos fracassos na segurança pública, ações e omissões lá
adotadas, e muitas vezes replicadas em outros Estados, não foram eficazes na
redução de crimes.
Como
um laboratório de infrutíferas políticas e práticas policiais e prisionais, o
Rio de Janeiro serve de modelo para os gestores da segurança pública e, também,
como alerta à sociedade em relação aos erros no enfrentamento da criminalidade.