sábado, 27 de julho de 2024
Publicado em 27/10/2023 às 16:14

O epicentro

Dias atrás, circulando pelo Rio de Janeiro, ouvi de um motorista a seguinte expressão: “eu quero entrar pra polícia porque eu gosto mesmo é da contravenção”. Permaneci em silêncio, pensando no significado histórico daquela emblemática frase.

                Na descida do morro do Vidigal, após fazer a trilha do Dois Irmãos, o mototaxista confidenciou-me que precisava pagar R$ 250,00/semana e “tributo” sobre as corridas para o dono do morro.

                Alguns dias depois de deixar a Cidade Maravilhosa, que realmente é uma lugar espetacular, ainda que seja a cruel expressão das contradições sociais brasileiras, três médicos foram assassinados em razão de terem sido confundidos com milicianos.

                Os supostos criminosos apareceram mortos no dia seguinte. O tribunal do crime, talvez acuado pela repercussão midiática, resolvera prontamente a autoria delitiva... arquive-se!

                A história da segurança pública no Rio é complexa, trata-se de um espaço marcado por perniciosas relações entre Estado, jogo do bicho, tráfico de drogas e, por derradeiro, milícias.

               No ano de 2018, sob intervenção federal, o emprego das forças armadas custou aos cofres públicos R$ 72,2 milhões. As operações bélicas, porém, não alteraram a insegurança no Rio, a militarização das ações policiais tornou-se um rotundo insucesso.

                O Fantástico apresentou os resultados das operações de Garantia da Lei e da Ordem: o Complexo da Maré tomado por traficantes, que, como militares, treinavam nas dependências de um clube.

                Nas periferias, transporte, comércio e tráfico de drogas agora são explorados pelos milicianos, criminosos, que, sob o afago estatal, surgiram para realizar o “combate” ao crime enquanto justiceiros oriundos das instituições de segurança pública.

                Décadas atrás, jovens portando fuzis era coisa do Rio, a cena tornou-se comum em outros Estados. Disputas por territórios e confrontos entre grupos criminosos era exclusividade carioca, hoje não mais.

                O Rio é o epicentro dos fracassos na segurança pública, ações e omissões lá adotadas, e muitas vezes replicadas em outros Estados, não foram eficazes na redução de crimes.

                Como um laboratório de infrutíferas políticas e práticas policiais e prisionais, o Rio de Janeiro serve de modelo para os gestores da segurança pública e, também, como alerta à sociedade em relação aos erros no enfrentamento da criminalidade.



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