Não sei exatamente o motivo
psicanalítico, mas guardo na memória as botas de cor azul que pisoteavam as
poças d’água na praça Castelo Branco. Talvez as galochas, sem eu compreender a razão, e também porque ainda
estávamos em regime de exceção, apenas fizessem alguma provocação libertária ao
general plúmbeo.
Hoje, porém,
as linhas não são exatamente políticas, se bem que a vida é feita de escolhas
políticas, o ar que respiramos, a chuva que rega a terra, queiramos ou não,
carregam moléculas de política.
Voltemos às
galochas.
Por que minha
mãe não comprou vermelhas? Eu já era um coloradinho mais ou menos fanático.
Preciso desvendar também este mistério, embora não tivéssemos tantos produtos
para consumo no início da década de 1980.
Agora, sim,
de volta ao aguaceiro invernal da praça. A reminiscência diz sobre estações
definidas. As flores na primavera; sol robusto, em dezembro; depois, as folhas
errantes; e, por derradeiro, a estação gélida.
As infâncias
no sul já não testemunham estações bem definidas. Existe um consenso de que as
coisas mudaram. O planeta dá sinais de esgotamento, até o sol, entristecido,
esconde-se entre as nuvens de fumaça, e a enchente…
O
climatologista Carlos Nobre tem alertado para os riscos da crise climática,
para ele, o planeta pode se tornar inabitável até 2100, se a temperatura global
aumentar em 4º.
Nobre diz que
o Brasil pode ser duramente atingido pela catástrofe ambiental em curso,
observemos os rios do norte, outrora verdadeiros mares, padecendo em secas
antes testemunhadas no sertão nordestino. Para Nobre, um aumento de 2,5º
devastará entre 50% a 70% da Amazônia.
O
climatologista ainda refere que as metas de redução das emissões de carbono não
podem esperar 2050. Todos os governantes e líderes mundiais devem celebrar um
pacto para a preservação e recuperação ambiental. O hoje é inegociável, sob
pena de não haver o amanhã.
A pergunta é:
teremos poças d’águas para nossos netos saltitarem felizes nas praças?
Quantas
futuras gerações?