O sistema de justiça é um espaço
bastante imune às lutas sociais, até porque parte da burocracia acredita fazer
parte da burguesia. Todavia, os “petit bourgeois” situam-se, no máximo, na
portaria, controlando o acesso à cobertura do edifício Brasil.
Os campos jurídico e judicial reproduzem teorias, ações e
decisões a partir da ideologia de classe dominante, que é formada por meia dúzia
de pessoas possuidoras de fortuna equivalente a de outras 100 milhões. São
eles, portanto, os donos do Brasil e de suas instituições.
Também não podemos esquecer que o Direito é um
instrumento de opressão e controle dos empobrecidos, e é assim que regras e
princípios são aplicados pelos operadores – alguns pensadores – jurídicos.
A engrenagem que controla os pauperizados em um país desigual
é complexa e necessita dos aparelhos jurídicos para garantir a incontrolabilidade
do acúmulo material.
Lula conhece as relações estabelecidas entre burguesia e
sistema de justiça?
Sim.
Mas também sabe que o povo responsável pelas suas três
eleições não depende diretamente do sistema de justiça para sobreviver. São as
políticas públicas que promovem as necessárias mudanças na mesa dos descalços.
Lula, ainda que isso possa parecer equivocado para os
defensores da pauta identitária, desconsidera em boa medida os efeitos da
indicação de uma ministra negra para o STF. O presidente forjou-se nas lutas de
classe e política, não fazendo sentido para ele a preponderância de gênero e
raça em tal escolha.
Lula sabe como ninguém interpretar o pensamento popular,
que se encontra muito distante dos interesses em derredor de um debate generificado
e racializado para a vaga na Corte Constitucional, afinal estamos em um país
desprovido das consciências de classe, raça e gênero. No Brasil, o empresário
do seu próprio corpo [trabalhador] às vezes é contra direitos trabalhistas e
contribuição sindical. Somos um povo agrilhoado às ideologias coloniais.
É uma pena a não indicação de uma negra, ela arrastaria
para o STF, como um enfurecido vendaval, as realidades brasileiras,
tornando-se, talvez, o voto de esperança na desconstrução dos alicerces
escravocratas que ainda sustentam a casa grande Brasil.