sábado, 27 de julho de 2024
Publicado em 06/06/2024 às 16:24

O frentista da esperança

Os processos imigratórios acompanham a história do Brasil. Aliás, se olharmos bem, o caminhar da humanidade é escrito por longas jornadas pelo globo terrestre.

O Rio Grande do Sul é moldado etnicamente por deslocamentos voluntários e forçados, como é o caso dos açorianos que chegaram em Porto Alegre e outros povos europeus que colonizaram o interior gaúcho, sem esquecer do tráfico de escravos interprovincial que realocou o negro no pampa.

O Brasil, por sinal, nas suas relações com outros povos, e aqui já tratando dos refugiados, tal qual o Cristo Redentor, sempre acolheu pessoas de diversas nacionalidades que buscavam recomeçar suas vidas longe das tragédias no país de origem.

Alguns fugiam da guerra; outros, da perseguição política e religiosa; tantos outros, da fome; e todos eles enxergavam o este grande país tropical repleto de oportunidades para uma nova vida.

Nos últimos anos, em centenas de cidades gaúchas, passamos a conviver com haitianos, senegaleses e venezuelanos. Superando os desafios culturais da imigração, eles buscam consolidar o direito à vida digna, que, por sinal, é um dos fundamentos do Brasil, conforme o art. 1º da Constituição Federal.

Os novos imigrantes, em comum, têm a gana dos que já enfrentaram crises humanitárias que às vezes nos leva a refletir sobre a existência ou não da racionalidade na espécie humana.

Eles sabem lutar pela vida nas catástrofes, como os haitianos, que, em 2010, depararam-se com um terremoto que ceifou 300 mil vidas, deixando ainda milhões de desabrigados.

Emociona, portanto, a conduta do chef senegalês Sessidy, do restaurante Teranga África, em Porto Alegre, que, mesmo com o estabelecimento devastado pela enchente, não mediu esforços para montar um cozinha solidária e produzir refeições aos desabrigados.

Com a enchente, então, pensei no frentista haitiano que, ainda misturando o crioulo e o português, sem disfarçar o largo sorriso de esperança, me atendia no posto de combustível canoense.

Oxalá esses imigrantes tenham força para mais uma vez recomeçar, agora, porém, longe de casa.

            



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