Publicado em 31/05/2024 às 17:04

Mate novo

O solo agora esvaído de substancias, relembra o seu passado, com saudade miúda, porém, com os olhos gordos sobre as cultivares de d’outrora, nas vigorosas terras das velhas colônias gaúchas, florescendo verdades, frutificando em grãos vistosos, nas terras tornadas férteis pelos seus detentores, nos vales vistosos, e as tulhas dos tempos aguardavam de boca aberta, os frutos nobres, à sobrecarregar-se, visando oferecer sustento, enquanto outras cultivares germinavam, enquanto os braços robustos, de obreiros destemidos, destemidos na labuta pela vida, esteados na fé e esperança de dias altivos, vistosos, sobranceiros, em busca da pujança e de manhãs fartas.

As águas cristalinas dos rios, das sangas, provindas de nascentes vaidosas, filhas nativas do oco dos morros, das estranhas da terra, ejaculadas gotículas, jorrando solo afora, no afã de saciar a sede e formarem córregos pós-nascentes, virtuosas em si, sorridentes e transparentes, em travessuras loucas, louvando as manhãs douradas, mas também, àquelas, repletas de filhos das nuvens, se lançando sobre a terra com ares camicases, esfacelando-se sobre o solo, maculando-lhe o rosto, infertilizando-o, na missão “divina,” de produzir o sagrado alimento.

Ah, essas manhãs com ares solenes de primaveras eternas, de sóis iluminados e de cascatas majestosas, manhãs com cheirinho de pão-de-milho quentinho, saído do forno, forno das vovós, das mamães, pão com cheiro de colo, cheirinho de canela, misturada à massa e, daqueles aromas surpreendentes, próprio das vovós, escondido a sete chaves, no afã surpreender aos netos, com a fragrância única e, uma sutileza sem par, daqueles dias tão longínquos, distantes de si, distantes de netos e de avós, dias de angústias, no aguardo da salutar e fraterna convivência!

O descortinar de novos dias, de incógnitos feixes de luares, na plenitude universal, espraiando virtuosidades sobre as noites divinais, púlpito de danças estelares, em cenários engalanados, ondeantes, ribalta de figurantes encenações, espetáculos surpreendentes, desfilando diante de olhos soerguidos, motivados, estupefatos de uma plateia espremida, emocionada, na praça onde o povo extravasa alegria, exalta a vida, o labor, sonha um futuro brilhante, com a mais profunda e “escaldante” esperança, nos moldes criança, por sóis e dias delirantes.

Um mate novo, erva de novos ervais, cevado com folhas cancheadas, apraz e faz gosto, sorvê-lo em fraternidade, em rodas de mate e prece, traz ao lume o passado, trançado com mãos de aço, nos mutirões solidários, erguendo aramados, capinando entre as plantações, colhendo frutos, procedendo trocas de víveres, estendendo a mão, gestos sublimes de um povo, forjado na rudeza, não verga a espinha, vai a luta, retoma o timão, dirige a embarcação, revolve o solo, lança a semente, domina a erva daninha, colhe os frutos, comemora as colheitas, respeitosamente, agradece aos céus. Esse povo ainda existe, o Rio Grande pujante, reverdejará do caos e, em douradas colheitas mostrará a garra gaúcha!



Compartilhe essa notícia: