Em 8 de julho de
1994, o Rio Grande do Sul foi sacudido por uma grande rebelião no Presídio
Central e a hollywoodiana invasão do Hotel Plaza São Rafael, no centro de Porte
Alegre.
No episódio, após horas de negociação, o líder da Falange
Gaúcha, Dilonei Melara, e outros dois comparsas, levando três reféns, deixaram
o presídio e seguiram em fuga pelas ruas da capital, quando então o táxi
tripulado pelos criminosos derrubou o vidro da portaria e estacionou no saguãodo
famoso hotel.
Os criminosos foram recapturados, e o acontecimento
desvelou a existência deproblemas estruturais e embrionárias organizações
criminosasno sistema prisional gaúcho.
A Brigada Militar assumiu o Central no ano seguinte,
substituindo os agentes penitenciários na administração da casa prisional. Em
2023,depois de 28 anos, os policiais militares retornaram ao policiamento
ostensivo.
Qual o saldo deste peculiar movimento no campo da
segurança pública ocorrido há tantos anos? É difícil dizer se a decisão da
época, que retirou policiais da rua, foi acertada.
Porém é razoável afirmar que o Presídio Central se tornou
o Escritório Central do crime, os presidiários organizaram-se, projetaram suas
relações para além dos muros e grades, espraiaram práticas ilícitas e ainda
promoveram batalhas sangrentasna disputa de territórios.
O Presídio Centralnotabilizou-se pela sistemática
violação de direitos humanos, cenário que motivou diversas entidades a encaminharem
o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
O Central ao longo de décadas não passou de um depósito
de subumanos, sem qualquer preocupação com o retorno desses alcunhados “não
cidadãos” ao convívio social.
O degradante ambiente carcerário do bairro Partenon tornou-se
um dos grandes fatores criminógenos do Estado, reproduzindo criminosos e crimes
em escala industrial. Não bastapoliciamento preventivo einvestigação criminal
para a redução de crimes,quedepende precipuamente dozelo com o sistema
prisional.
O Central volta a ser administrado pela polícia penal,
que deve encarcerar e sobretudoressocializar. Desse modo, renovam-se as
esperanças em uma área bastante sensível da segurança pública, que é o sistema
prisional, às vezes estrategicamente esquecido por governantes.
Aprisionar garantindo dignidade representa uma escolha
civilizatória, a desumanização e a violência no cárcere têm efeitos
devastadores para a sociedade, ainda que alguns punitivistas, talvez
deliberadamente míopes, não observem os erros do passado.