Publicado em 02/06/2021 às 10:00

Carlos Antonio, o Guardião de Santo Ângelo (parte 1 - Origens)

- Você conhece a rua Carlos María de Alvear, aqui em Santo Ângelo? Não, né?

Não adianta clicar no Google Maps e procurar, pois, só vais conseguir acha-la em São Paulo, ou quem sabe em Buenos Aires. Mas a possível surpresa que podes achar é o fato do Sr. Alvear ter nascido aqui na Capital das Missões e surpresa maior ainda vamos te contar nesta coluna aqui durante esta e as outras 3 próximas edições. 

Em 25 de outubro de 1789, nossa Santo Ângelo, chamava-se Santo Ángel Guardián de las Misiones, Vice-Reino do Rio da Prata, que desde 1777, pertencia a Espanha, e nela nascia Carlos María de Alvear, com o nome de batismo de Carlos Antonio del Santo Ángel Guardián. E dele, originaria-se uma saga de políticos influentes, inclusive um presidente argentino. 

Seu pai, Diego de Alvear y Ponce de León foi um militar e político espanhol, neto do fundador das bodegas “Alvear” de Montilla, que ainda hoje, produzem fino vinho. Diego de Alvear chegou no Rio da Prata em 1774 e participou da chamada “Guerra de Sacramento” um conflito colonial entre Espanha e Portugal pelo controle da Colônia do Sacramento (no território do atual Uruguai), sendo o conflito favorável as forças espanholas culminando na criação do Vice-Reino do Rio da Prata. 

Foi neste novo Vice-Reino que Diego de Alvear viveu durante quase 30 anos. Lá continuou sua carreira militar ascendente, chegando a general, e casou em 1781 com a María Josefa Balbastro, com quem teve nove filhos. Anos antes, aparentemente segundo crônicas de diferentes autores, entre os quais está sua neta, teve outro filho natural, fruto de uma relação com uma indígena guarani chamada Rosa Guarú, e que seria adotado pela família do governador de Yapeyú (Argentina) Juan de San Martín, que no futuro seria o libertador José de San Martín (herói argentino). Inclusive, este controverso assunto já foi declarado de interesse na Argentina pela Câmara de Deputados da Nação Argentina, segundo uma resolução de 4 de outubro de 2006. 

Em 1804, Diego de Alvear embarcou para a Espanha, com sua família e com todas as riquezas, depois de seus anos de serviço no rio da Prata. No entanto, próximo à costa portuguesa, os barcos espanhóis que transportavam os Alvear, se encontraram com uma flotilha de guerra britânica e que, apesar de ambos os países estarem em paz, ameaçaram os espanhóis. Contudo, os acontecimentos se precipitaram, e um canhoneio intimidatório britânico atingiu a fragata espanhola, que afundou no ato, levando consigo as riquezas acumuladas por Diego Alvear e as vidas de sua mulher e filhos. Do naufrágio, somente se salvaram ele e um de seus filhos, o primogênito Carlos María de Alvear, nascido em Santo Ângelo. O fato desencadeou dois meses depois uma declaração de guerra da Espanha contra a Grã-Bretanha. 

Os restos do naufrágio em que morreram a primeira mulher de Diego de Alvear e oito de seus nove filhos de seu primeiro casa- mento, foram encontrados e espoliados pela empresa de caça de tesouros dos Estados Unidos Odyssey Marine Exploration em 2007. Esta empresa, extraiu cerca de 200.000 moedas de prata e ouro, assim como canhões, lingotes de cobre e outras riquezas. A maior parte destas riquezas foram transportadas via aérea com destino aos Estados Unidos a partir do aeroporto de Gibraltar. O governo espanhol levou a empresa ante os tribunais por causa disso. Depois de cinco anos a justiça norte-americana obrigou a empresa a devolver o tesouro ao governo espanhol, porém disto derivou em um novo debate, na Espanha, sobre a divisão do mesmo, que segue. 

Temos então, Carlos María de Alvear de família nobre e abastada, sobrevivente de um naufrágio, e você que pode estar se perguntando, e aí, por que deveria ele ter um nome de rua em Santo Ângelo? Acompanhem a continuação na próxima edição. 



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