domingo, 19 de maio de 2024
Publicado em 21/07/2021 às 11:49

Um nobre dinamarquês em Santo Ângelo (Parte III)

Acompanhamos nas partes I e II de “um nobre dinamarquês em Santo Ângelo”, a obstinação e o desprendimento com que Frode Johansen, deixou a Dinamarca, seu título nobiliárquico, e adquiriu uma enorme propriedade composta unicamente de mato e campo, mas para ele, era um nova sociedade que poderia germinar.  

As propriedades adquiridas no final do século XVIII, ganharam rapidamente casas e pequenas industrias e em 1910, fundava-se a “Colonia Burity”, quando da fundação já possuía quase 500 habitantes, de diversas nacionalidades: brasileiros, dinamarqueses, alemães, austríacos, suíços, uruguaios e holandeses. Posteriormente ainda receberia descendentes de poloneses, italianos, húngaros e tchecos.  

O intendente local, Coronel Bráulio Oliveira em relatório apresentado ao Conselho Municipal na sessão de 20/07/1913, informa: “Muito tem prosperado esta Colônia devido a atividade de seu fundador. Criada há apenas 3 anos, tem avançado sensivelmente, graças a apurada seleção que seu proprietário faz na aquisição de colonos”.  

Somente em 1938, Frode, levou para registro o loteamento da Colônia, oportunidade em que apresentou um elaborado plano de loteamento e todo o histórico da propriedade e os mapas por ele produzidos, datados de 1908. Ele não se descuidou dos mínimos detalhes, inclusive organizando as comunidades religiosas, luterana e católica. O idioma oficial das 5 linhas que ele havia criado (ver edição anterior Parte II), era o alemão, portanto a única língua ensinada nas duas escolas surgidas na comunidade, o que se manteve até as proibições ditatoriais do governo de Getúlio Vargas.   

Porém, apesar dos costumes e idiomas germânicos propagados na comunidade, a mesma tinha como objetivo maior a sua autossutentabilidade e liberdade. Nota-se em especial a comemoração do centenária da independência do Brasil em 1922, na qual como símbolo da força da liberdade, colocou-se uma enorme pedra, ainda hoje, presente na praça, no centro da Vila.  

Em 1911, nascia a primeira criança em Burity, a qual certamente ao presenciar a liberdade, organização e trabalho do fundador e das famílias de colonos recrutados, viu a prosperidade do distrito, que veio rapidamente. Abriram se indústrias das mais variadas, comércios e clubes. Tão logo a comunidade foi se formando, foram estendidas linhas telefônicas, construído hospital, fundadas as sociedades de damas e estabelecidas todas as profissões necessárias (médico, dentista, serviço de correios, enfermeiros, sapateiro, carpinteiro...), fundaram-se salões de baile, clube de tiro ao alvo e de lança, decorrentes da motivação particular de Frode e sem nenhuma participação estatal. A partir do advento da II Guerra Mundial, os clubes de tiro ao alvo foram fechados, ocorreu a proibição dos moradores falarem o idioma que lhes era o oficial, teve-se a inserção de uma escola pública, e forçou-se o civismo a pátria e muitas restrições e punições iniciaram-se contra os moradores, bem como a alteração do nome das instituições e festas comunitárias, inclusive a própria grafia do nome Burity, alterou-se para Buriti.  

Somadas todas as limitações impostas em decorrência do regime ditatorial que o Brasil sofreu e que respingaram na comunidade e ao falecimento em 1939 de Frode Uffo Johansen, a colônia sobreviveu, porém seu crescimento estancou-se, e pouco desenvolvimento demográfico e econômico registrou-se, comparando com o experimentado nas primeiras décadas após sua fundação.   

Esse abnegado nobre dinamarquês, que certamente sofreu com o calor, com os costumes locais e com a desconhecida mata e seus perigos, criou uma comunidade que foi de suma importância para o desenvolvimento de Santo Ângelo e berço de muitos futuros líderes santo-angelenses em diversas esferas.  

Frode, ainda foi conselheiro municipal em Santo Ângelo por mais de 10 anos, representando o partido Republicano. Um personagem historicamente riquíssimo e de feitos importantes para nossa região e proscrito da nossa história, sem nenhuma digna homenagem, seja bustal ou de logradouro.  




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